A Petite Suite de Claude Debussy compõe-se de quatro peças muito curtas, mas de grande beleza. Todas têm um caráter vagamente descritivo, como se evocassem ideias ou situações. Mergulha deste modo num universo musical muito subtil, parcialmente inspirado na poesia de Paul Verlaine. Destaca-se a parte inicial da obra, aquela que se tornou mais conhecida, En bateau.
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A Petite Suite de Claude Debussy começou por ser uma composição para piano a quatro mãos que em 1889 o próprio compositor estreou como intérprete num salão privado em Paris, sentado ao lado de Jacques Durand. Ao piano, é uma partitura de execução relativamente fácil. Mas veio a ser orquestrada vinte anos mais tarde pela mão de Henri Büsser, maestro da Ópera de Paris e amigo do compositor. Foi neste formato que a obra alcançou a popularidade que lhe conhecemos hoje.
As primeiras duas peças inspiram-se em poemas retirados da coleção «Fêtes galantes» de Paul Verlaine, o poeta preferido de Debussy. En bateau, que dá início à suíte, tornou-se na mais conhecida, pela sua bela melodia entoada pela flauta na companhia de uma harpa. É muito provável que a maior parte de nós a reconheça de imediato ao escutá-la. Sente-se o ondular de um barco num ambiente romântico, como o contemplar de um quadro de águas calmas numa tarde quente de verão. Contrasta com Cortège, uma animada procissão popular em que até macacos seguram caudas de vestidos de senhoras. As últimas duas peças não recorrem a referências tão explícitas. O Minueto, apesar de aludir ao estilo dos salões aristocráticos setecentistas, não deixa de nos remeter para um universo de fantasia e mistério. Por seu turno, o Ballet permite-nos imaginar as salas de teatro mais populares de Paris em finais do século XIX e convida a colocar as preocupações todas de lado.
Rui Campos Leitão
[Foto de Claude Debussy em 1900 Fonte: Bnf Gallica]