A Sinfonia Simples de Benjamin Britten combina de forma sofisticada referencias musicais tão díspares como a música do século XVIII e a valsa dos salões burgueses do século XIX. Datada de 1934, identifica-se com a estética neoclássica, pelo modo como recupera técnicas de composição do passado e as coloca ao serviço de propósitos artísticos sempre renovados.
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Enquanto compositor, Britten encontrava motivação para trabalhar em alcances plausíveis, tendo em vista situações concretas, intérpretes que conhecia. À sua maneira, buscava uma reação imediata das suas criações no mundo em que vivia. Nesse sentido, pode-se afirmar que era dono de uma personalidade bastante menos permeável ao ideal romântico do que boa parte dos seus contemporâneos, em particular aqueles que projetavam para si mesmos o reconhecimento póstumo. Ainda assim, a sua música transcende o contexto em que teve origem. Ela comunica connosco através de uma inquietação subliminar. Sempre elegante, avessa a excessos, dissimula uma disfarçada tensão – se quisermos, uma expressão de dor. Pressente-se sempre um inconformismo latente, fundamental. A Sinfonia Simples é uma boa porta de entrada para este universo.
Apesar de ter completado anteriormente quatro partituras orquestrais, esta foi a composição que anunciou definitivamente a carreira do músico inglês. Criança prodígio, cedo se distinguiu enquanto pianista e compondo pequenas peças. Mas foi nesta obra que demonstrou as competências técnicas e expressivas exigidas a um compositor profissional. Sem se afastar dessa intenção, nunca comprometeu, todavia, o seu espírito bem humorado, fazendo parecer tudo fácil (tudo «simples»). A título de exemplo, em concordância com a irreverência de um jovem de vinte anos de idade cheio de talento, não terá sido inocente a aliteração do título que aparece replicada em cada um dos andamentos. Assim acontece em Boisterous Bourrée, onde se acrescenta «violência» àquela dança barroca, sempre de pulsação rápida e cadência binária. Depois, em Playful Pizzicato, um nome que não poderia ser mais denotativo, já que o registo de brincadeira é conseguido através da técnica pizzicato, pousando o arco, dedilhando as cordas. O mesmo acontece em Sentimental Sarabande, a secção mais pungente. Por último, em Frolicsome Finale, um final alegre, como o nome indica. Ao longo de quatro andamentos que mais configuram uma suíte de danças barrocas do que uma sinfonia clássica, sucedem-se temas melódicos emprestados de peças para piano compostas pelo próprio Britten quando tinha apenas dez anos de idade.
Rui Campos Leitão