O Concerto Brandeburguês N.º 3 é o mais popular, mas o N.º 5 será, porventura, o mais inovador dos seis célebres concertos que J. S. Bach escreveu para o Marquês de Brandeburgo. Muitos consideram tratar-se do primeiro concerto para Cravo e Orquestra existente, tal é o protagonismo confiado àquele instrumento.
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O Concerto Barroco, enquanto formato musical, desenvolveu-se essencialmente em Itália, estendendo-se depois a sua prática por toda a Europa. Genericamente, consistia na contraposição de um núcleo de solistas (denominado Concertino) e o grupo mais abrangente da orquestra. A maioria destes concertos compõe-se de três curtos andamentos, numa previsível sucessão do tipo rápido-lento-rápido. Juntam-se ainda duas outras características bastante particulares: a presença constante do baixo contínuo e a alternância de secções que se assemelham a um refrão (o Ritornello) com episódios onde o Concertino assume acentuado protagonismo.
No caso do Concerto Brandeburguês N.º 5 de J. S. Bach, o Concertino é composto por uma flauta, um violino e pelo próprio cravo. O facto de este último instrumento assumir o papel de solista é particularmente relevante, já que naquela época a sua função era sempre destinada ao baixo contínuo, enquanto suporte rítmico e harmónico, com exceção das peças em que se apresentava a solo. Assim, especula-se que o concerto tenha sido composto logo após a chegada de um novo cravo a Cöthen, na sequência da viagem do compositor a Berlim, em 1719. Com efeito, o primeiro andamento, invulgarmente longo, com quase dez minutos de duração, explora exaustivamente as capacidades técnicas e tímbricas do instrumento, como que em jeito de demonstração. Uma tese diferente explica que este protagonismo do cravo reporta ao «confronto musical» que esteve para acontecer entre Bach e Louis Marchand na corte de Dresden, em 1717, já que a melodia do segundo andamento é bastante semelhante ao tema de uma fuga para órgão assinada por aquele músico francês.
Em qualquer das razões, certo é que a cadência do primeiro andamento é dominada pelo virtuosismo do cravo, o que também nos permite adivinhar as competências de Bach enquanto intérprete. No segundo andamento, marcado por um ambiente bastante mais afetuoso, o cravo também se junta à «conversa» dos outros dois solistas, ainda que dispense o acompanhamento das restantes cordas. Já no último, em forma A-B-A, o cravo destaca-se, sobretudo, na parte central, recreando-se por entre efeitos sonoros de grande variedade.
Rui Campos Leitão