As suítes de bailado são obras orquestrais onde se reúnem «as melhores partes» musicais de um espetáculo cénico dançado. Foram uma prática muito comum na segunda metade do século XIX e têm na suíte d’O Lago dos Cisnes de Piotr Ilitch Tchaikovsky um dos exemplos mais célebres. Tanto assim é que se tornou hoje impossível escutar qualquer uma das suas peças sem experimentar uma agradável sensação de reconhecimento, seja porque soam melodias que sabemos trautear ou porque identificamos efeitos orquestrais indissociáveis da cultura ocidental.
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Nos nossos dias, O Lago dos Cisnes é um dos bailados mais frequentemente programados pelas companhias de dança em todo o mundo. Começou, todavia, por ser um rotundo fracasso, quando em março de 1877 estreou em Moscovo, no Teatro Bolshoi. Tal deveu-se, em parte, a alguns aspetos inovadores que trouxe àquilo que então se esperava deste género teatral. A música já não se limitava a belas melodias nem a ritmos perfeitamente combinados com sequências coreografadas. Tão pouco o foco cénico se cingia no virtuosismo técnico e na graciosidade da Prima ballerina. Sobretudo, havia uma história para contar, o que não correspondia ao modelo de entretenimento aristocrático baseado da sucessão de momentos lúdicos de generoso aparato. Explica-se assim a dificuldade que os bailarinos terão sentido para se adaptarem a uma partitura que estava mais comprometida com a narrativa do que com os estereótipos rítmicos e com os padrões fixos das contagens. Tal explica também a razão porque a célebre valsa, a mazurca e outras danças se adaptam com tão grande facilidade a diferentes formatos de difusão, seja o cinema, o disco ou a sala de concertos.
Deste modo, é oportuno alimentar a nossa fantasia lembrando o enredo que então subiu à cena em forma dançada e ao som da música do compositor russo. N’O Lago dos Cisnes tudo acontece no reino do feiticeiro Rothbart, que transformou a princesa Odette num cisne branco. À noite, Odette recuperava a aparência humana, mas só poderia libertar-se definitivamente do feitiço quando encontrasse um homem que a amasse verdadeiramente. Surgiu então o príncipe Siegfried, que por ela se enamorou durante uma caçada. Convidou-a de imediato para se apresentar no baile real, onde seria anunciada princesa. É nesse baile que se escutam danças características de regiões distantes – de onde, pretensamente, provinham as outras candidatas. Mas quando tudo parecia bem encaminhado, Rothbart apresenta-se disfarçado na companhia de sua filha Odile, o cisne negro, e ilude o príncipe levando-o a quebrar o seu juramento. Entretanto, Siegfried apercebe-se do erro e vai ao encontro de Odette. No fim prevalece o amor. A fúria do feiticeiro ainda inunda as margens do lago, mas o heroísmo de Siegfried quebra a maldição. Todos os cisnes brancos são salvos e recuperam a forma humana. À frente de todos… Odette, claro está!