A combinação da flauta com o piano é bastante curiosa, de tal modo são gritantes as diferenças entre os dois instrumentos. A ancestralidade da flauta contrasta com a sofisticação técnica e com a imponência do piano. A sua aparente fragilidade desdobra-se em lirismo, virtuosismo aparatoso e até registos soturnos. Convida o piano também ele a transfigurar-se, num leque que se estende do intimismo difuso ao aparato sinfónico. Esta combinação encantou muitos compositores. Os Solistas da Metropolitana juntam cinco neste programa: dois portugueses, dois brasileiros nascidos em Porto Alegre e um francês que viveu quase dois anos no Rio de Janeiro.
Começam por este último, com uma Sonatina estreada no Teatro dos Campos Elísios em 1922, já depois de Darius Milhaud ter regressado do Brasil. Em três andamentos, a flauta vagueia subtilmente num mosaico de melodias aparentemente dispersas. Saltam depois para 1986, até ao 80.º aniversário de Fernando Lopes Graça, a ocasião da estreia de Andante e allegro, no Estoril. Esta é uma das várias composições que o músico tomarense dedicou à flauta, todas elas já depois do 25 de Abril. Já a Sonata para Flauta e Piano de Brenno Blauth não esconde a proveniência, com alusões explícitas ao Samba, ao Choro e à Modinha. Com José Vianna da Motta lembram a afetação lírica romântica de finais do século XIX. Por fim, Radamés Gnattali, um extraordinário orquestrador com especial predileção pela flauta. No último andamento da Sonatina que compôs em 1974 homenageava o mestre Pixinguinha, falecido no ano anterior.
Sonatas e Sonatinas / Portugal-Brasil
Solistas da Metropolitana
Darius Milhaud Sonatina para Flauta e Piano
Fernando Lopes Graça Andante e Allegro
Brenno Blauth Sonata para Flauta e Piano
José Vianna da Motta Romance para Flauta e Piano
Radamés Gnattali Sonatina para Flauta e Piano
Nuno Inácio flauta, Savka Konjikusic piano
