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A Música Orquestral de Carlos Seixas

Muito embora se tenha notabilizado em vida como organista, o compositor português Carlos Seixas (1704-1742) é sobretudo conhecido pela cerca de uma centena de peças para cravo solo que nos chegaram. Mais rara, é a sua produção orquestral. Conhecem-se somente três partituras para orquestra; um concerto para cravo, uma sinfonia ao estilo italiano da época e uma abertura francesa que desperta particular curiosidade, em virtude da influência predominante que a música italiana tinha no entorno da corte do rei D. João V.

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Natural de Coimbra, Carlos Seixas veio para Lisboa com dezasseis anos de idade, em 1720. Logo se tornou organista da Igreja Patriarcal, para lá das lições de cravo junto de famílias da nobreza. Naquela época, a vida musical da corte portuguesa não era muito exuberante. Entre as iniciativas promovidas por D. Maria Ana de Áustria, era sobretudo dado relevo à música vocal, designadamente cantatas, pastorais e serenatas. No universo mais alargado da convivência lisboeta, cultivava-se o gosto pelos bailes e por espetáculos de ópera, entre outros géneros teatrais. Destacavam-se ainda as músicas praticadas nos locais de culto religioso e no contexto mais reservado dos salões da aristocracia. Foi nestas últimas vertentes que Carlos Seixas desenvolveu a sua carreira profissional e conquistou o prestígio que lhe valeu o título de Cavaleiro da Ordem de Cristo. Ao contrário da maioria dos seus colegas compositores que estavam ligados à corte, nunca estudou em Itália, tão-pouco compôs música teatral. Ainda assim, a Abertura em Si Bemol Maior que se encontra num caderno compilado na década de 1760 juntamente com obras de outros autores assemelha-se às aberturas das óperas italianas, com uma textura eminentemente melódica e dividida em três breves secções, com a disposição Allegro Adagio Minuetto. A sua datação e autoria tem suscitado a discussão entre os musicólogos, mas terá sido efetivamente composta por Seixas cerca de 1740. Já a Abertura em Ré Maior, a qual se encontra no mesmo documento hoje conservado na Biblioteca Nacional da Ajuda, aproxima-se mais de uma suíte, neste caso com cinco peças: StaccatoAllegro assai / AndanteSiciliana / Minuetto. Deste modo, manifesta uma condição híbrida entre os estilos francês e italiano. O Staccato inicial indicia padrões rítmicos que lembram o Rei Sol, mas a divisão implícita em três secções, numa estrutura do tipo rápido-lento-rápido, remete-nos para imaginários transalpinos. Esta partitura poderá ter sido destinada a uma ocasião muito pontual, porventura um sarau realizado na corte.

 

Rui Campos Leitão

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