
| Como avalia a importância da parceria entre a Imprensa Nacional e a Metropolitana, que se iniciou na temporada 2013/14? É importante na estratégia da INCM, e da IN, a chancela editorial da INCM, de promoção da língua e cultura portuguesas. A parceria tem três níveis distintos: o concerto de apresentação do Plano Editorial, na gráfica da IN, a temporada de música de câmara na biblioteca da IN e o CD que se constitui como um registo para o futuro, sempre com peças de compositores portugueses (clássicos e contemporâneos) e que oferecemos como presente institucional. Como é que, ao longo destes cinco anos de parceria, a INCM tem visto o trabalho da Metropolitana? A Metropolitana é uma excelente iniciativa. Junta no mesmo projeto uma escola profissional, uma escola superior e um conservatório, uma orquestra profissional e várias orquestras de formação. Não conheço outra instituição que junte todas estas valências. Por outro lado, como espectador atento, sinto uma grande evolução na qualidade técnica e artística da OML. O apoio à cultura e à música clássica é uma das vertentes fundamentais do papel da INCM, enquanto empresa pública? O apoio à cultura sem dúvida – e a música clássica é, claro, uma das suas mais felizes expressões. A INCM tem, aliás, um Plano de Responsabilidade Social e Cultural em que todas estas atividades culturais estão integradas. Como se materializa esse Plano de Responsabilidade Social e Cultural? O Plano Editorial de serviço público é a face mais visível dessa responsabilidade cultural. Todos os anos editamos 70, 80 livros. Não fazemos edição comercial e o nosso papel, como editores, é supletivo ao dos editores privados. Temos também prémios literários em Portugal, Timor-Leste, Moçambique e Cabo Verde e apoiamos, de forma consistente, diversos programas de promoção da língua. Somos oficialmente “empresa promotora da língua portuguesa”. A realização de uma temporada de música de câmara na biblioteca da Imprensa Nacional, com seis recitais da Metropolitana, é outra das componentes dessa parceria. Como tem sido o acolhimento?Sim, a temporada de música de câmara foi o conceito que permitiu criar a parceria. As coisas têm corrido progressivamente melhor. Neste momento já existe um público regular que, em muitos casos, permite encher a biblioteca. Curioso, também, é que pelo efeito do turismo e da localização da biblioteca da IN, no Príncipe Real, vamos tendo, com regularidade, estrangeiros entre o nosso público. Como encara esta simbiose entre a música e as letras? A maridagem entre música e letras é uma composição clássica! Só com ingredientes estragados pode não correr bem. Os públicos da música, sobretudo da música erudita, cruzam-se muito com os da literatura. Assim, esta é uma combinação que, do ponto de vista da programação, parece fazer sentido. Talvez no futuro possamos aproximar, ainda mais, as letras e a música e, por exemplo, fazer leituras acompanhadas de música (ou seja acrescentar um leitor como membro de pleno direito de um agrupamento de câmara). Veremos a opinião do maestro Pedro Amaral… É nessa lógica, a da promoção da cultura, da música e dos artistas portugueses, que nasceu a coleção de discos entre as duas instituições? Os discos, não lhe chamaria ainda coleção até porque não existe um programa subjacente, são uma forma de garantir um testemunho, com uma certa perenidade, da nossa colaboração. Essa perenidade de que fala é uma preocupação? Claro que é. Diria que é fundamental que o reportório português esteja disponível para poder ser tocado e, por isso, iniciámos uma coleção, dirigida por João Paulo Santos, com a OPART/Teatro Nacional de São Carlos, de Partituras do Património Lírico Português. É fundamental que esta música possa ser tocada e cantada e, evidentemente, sem edições de qualidade, com os conteúdos devidamente fixados, isso não poderá acontecer. Não é possível dizer que não se liga à música erudita portuguesa quando não está sequer disponível para poder ser ensinada/tocada nos conservatórios e nas escolas de música. Da mesma forma, o reportório português precisa de ser gravado e de circular para que as pessoas o possam ouvir. É ver o que as editoras discográficas inglesas fazem com os seus compositores nacionais, por vezes totalmente vulgares, mas sendo apresentados como a “última grande descoberta”. Essa é a melhor forma de fazer chegar às pessoas a criação artística musical? Sim, mas creio que no futuro precisamos de perceber se o CD é o melhor suporte para fazer circular esta música gravada. Tem dúvidas? Algumas das pessoas a quem oferecemos os discos já não têm leitores de CD. Já nem os novos computadores portáteis têm leitores de CD ou mesmo a maioria dos automóveis de última geração. Eu ainda tenho, mas já não uso no dia-a-dia. Apenas para uma eventual conversão de um disco ou para a leitura de um documento antigo. | |