É um clássico da literatura universal e vai ser apresentado pela Orquestra Metropolitana de Lisboa esta sexta-feira no Teatro Thália, em Lisboa, e no domingo, em Loures. A adaptação é de Sérgio Azevedo, feita exclusivo para a Metropolitana. Invadimos os primeiros ensaios e conversarmos com o compositor.

Como estão a decorrer os ensaios?
Ainda estamos nos primeiros ensaios e há sempre muita coisa para afinar. Na quarta-feira fizemos o primeiro ensaio, que é sempre mais para partir pedra, se me é permitida a expressão. Foi o momento em que os músicos se confrontaram pela primeira vez com a obra musical. Hoje [quinta-feira], já foi um ensaio diferente, já foi um momento mais harmonioso, em que conseguimos polir esta pedra em construção permanente [risos].
Então, que pedra preciosa é esta que construiu?
A peça não é muito complicada. Nada complicada mesmo. Mas como é uma peça que tem texto, com muitas paragens e quadros que mudam muito rapidamente, os músicos têm de a conhecer. É uma estreia e isso pressupõe conhecimento. Mas eles são muitos bons músicos e, portanto, vão dar muito boa conta do recado.
E para o público que vai assistir ao concerto esta sexta-feira no Teatro Thalia, em Lisboa, e no domingo em Loures, como é que apresentaria esta obra?
Bem, a obra é a celebérrima história do Charles Dickens. Só que o livro tem cento e muitas páginas e foi preciso transformá-lo num concerto de 30 ou 40 minutos. A história, naturalmente, está lá toda, mas tive de a reduzir muito, não vai ser contada como o Dickens a conta. O texto dito demora imenso tempo e com música ainda mais. Foi preciso esse esforço de condensação. Mas ficou lá o essencial. Estão lá os fantasmas, o carácter do Mr. Scrooge, o final feliz… A história é exatamente a mesma que as pessoas conhecem.
Esta é a segunda encomenda no espaço de dois anos que a Metropolitana lhe fez. Como é que está a correr esta colaboração?
Tem sido muito interessante. A Metropolitana é uma excelente orquestra e não há muitas orquestras em Portugal a tocar frequentemente música portuguesa. O maestro Pedro Amaral fez aqui um excelente trabalho. A Metropolitana já me tocou várias peças, inclusivamente o concerto para flauta. Portanto, tem sido um trabalho ótimo, até porque já conheço estes músicos há muitos anos. Dois terços dos músicos da orquestra são quase meus amigos e eu gosto muito de trabalhar com pessoas com quem há uma certa afinidade.
Esta sua obra serve também para “apadrinhar” a estreia de Élio Leal como maestro da Metropolitana.
Ai é a primeira vez? Ah, que giro, não sabia. É uma dupla responsabilidade para mim [O maestro Élio já me dirigiu o outro conto musical que escrevi para a orquestra dos miúdos [Orquestra Juvenil Metropolitana] e gostei muito do trabalho dele. Trabalhar com profissionais é diferente, até porque os músicos, naturalmente, sabem mais, e até podem ter opiniões diferentes do maestro, ao contrário dos miúdos. Mas esta é uma orquestra muito colaborativa e isso é um sinal de maturidade. O Élio compreendeu bem a peça. As conversas e discussões que tivemos e que temos tido são as normais entre um compositor e um maestro. Nem que fosse o Karajan, eu iria dizer coisas e dar as minhas opiniões. Há sempre a visão do maestro e há sempre a visão do compositor. E a dos músicos, já agora. Mas no nosso caso, foi um trabalho muito colaborativo e chegámos facilmente a um acordo. Umas vezes cedeu o Élio, outras vezes cedi eu [risos]. Não tem sentido sermos divas e eu achar que tenho sempre razão.
Portanto, aceita de bom grado quando um músico ou um maestro lhe propõe uma alteração?
Claro, claro. Estamos a falar de muito bons músicos. Se fosse um amador, ou um mau músico, a dizer-me alguma coisa, talvez a minha reação fosse diferente. Mas não, neste caso não. Quando é um bom músico, que eu sei que toca tudo, e que me diz ‘olha que esta passagem está aguda de mais’, eu, se calhar, tenho de perceber que o erro é meu e, provavelmente, reescrever aquela parte. Isso é normal. Até o Ravel e o Débussy, que eram grandes orquestradores, quando escreviam para orquestra, de vez em quando corrigiam algumas coisinhas.