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A Canção da Terra junta OML e canto lírico no palco do Centro Cultural de Belém

A Orquestra Metropolitana de Lisboa regressa este domingo ao Grande Auditório do CCB, em Lisboa, para o programa “A Canção da Terra”, considerada por muitos como a mais importante obra de Gustav Mahler. Com a orquestra estarão os cantores líricos Cátia Moreso e Leonel Pinheiro. Ainda vai a tempo de comprar o seu bilhete.

Dirigida pelo maestro francês Sylvain Gasançon, a obra de Mahler terá interpretações do tenor Leonel Pinheiro e da contralto Catia Moreso, um das grandes cantoras líricas portuguesas da sua geração, que estudou no Conservatório Nacional de Lisboa e na Guildhall School of Music and Drama (Curso de Ópera), em Londres, onde obteve a licenciatura em canto e o grau de Mestre.

A cantora lírica Cátia Moreso

Em declarações à Metropolitana, Cátia Moreso sublinha que conhece bem esta obra, até porque “ainda no ano passado” a interpretou num ensemble instrumental mais reduzido. “Agora é diferente”, reconhece. “Muda o número de músicos, são mais instrumentos, portanto a sonoridade vai ser necessariamente diferente”. Do ponto de vista da sua atuação, não esconde que cantar com uma orquestra é mais confortável. “Há uma almofada maior, é verdade, estamos menos expostos. Essa ‘caminha’ é muito importante porque é ela que nos suporta todos os harmónios”.

A Canção da Terra já foi cantada por uma voz barítono, mas Cátia Moreso não se deixa intimidar, até porque, defende, “os textos do Mahler são ambíguos, tanto podem ser interpretados por um homem como por uma mulher”. “Mas na minha opinião, o facto de a obra ser cantada por uma mulher dá-lhe outra riqueza, até porque o elemento feminino é mais ligado às emoções”. E acrescenta que “tem muito a ver com cada intérprete e com a força que cada um emprega nas palavras”. “A forma de eu dizer ‘belo’ ou ‘sonho’ é diferente da forma como canta um barítono. Eu dou mais ênfase a determinadas palavras. Faz parte de mim e da natureza de cada cantor. Por isso é que a música é tão livre. Cada cantor é único”.

E que obra é esta que vamos poder ver no domingo no CCB? “A Canção da Terra tem um formato híbrido, algures achado entre a sinfonia e o ciclo de canções”, nota Rui Campos Leitão, musicólogo da Metropolitana, que acrescenta que a obra “foi composta há pouco mais de um século, altura em que se vivia na Europa uma mudança profunda de paradigmas, também nos universos intelectual e artístico”.

O resultado do casamento entre o canto lírico e a orquestra, prossegue, é “um exercício de erudição com tremenda densidade expressiva”, uma vez que o compositor viaja, ao longo da obra por “alusões dispersas conotadas com a natureza, com a poesia, com a filosofia, com a vida pessoal, com as tradições populares e até mesmo com exotismos emprestados de culturas distantes”, conclui Rui Campos Leitão.

A compositora Ana Seara

No programa deste domingo, a OML interpretará também a peça “Tua Lágrima em Mim”, composta por Ana Seara em 2009. “É uma clara homenagem aos meus pais que, nesse ano, fizeram 25 anos de casados”, conta à Metropolitana. E prossegue: “É como se o ADN da minha lágrima combinasse o do meu pai e o da minha mãe e também as alegrias e tristezas que nós, enquanto família, partilhámos”.

A peça tem a particularidade de já ter sido programada várias vezes e interpretada por várias orquestras diferentes. Ana Seara sustenta que “esta longevidade muito grande é uma coisa que habitualmente não acontece com as peças contemporâneas, que normalmente são estreadas e depois remetidas ao esquecimento”. “Esta, pelo contrário, tem vida. Tem vivido muito e espero que continue a viver”.

A também professora de música destaca a importância destes 30 anos da Metropolitana. “É uma instituição incontornável da cultura portuguesa, com excelentes músicos e sempre com temporadas muito interessantes. Esta, dos 30 anos, é particularmente interessante”, concluiu.