Não é exagero afirmar que Staccato Brilhante é uma das peças mais empolgantes de todo o repertório orquestral português. Em apenas um par de minutos, inscreve sem cerimónias um compêndio de recursos técnicos instrumentais. Percorre uma ampla paleta de sonoridades, melodias arrebatadoras, contrastes dinâmicos, fulgor rítmico e diálogos concertantes que distribuem protagonismo por todos os naipes. Exercício de síntese magistral, foi a derradeira lição orquestral de Joly Braga Santos.
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O Staccato Brilhante foi composto em 1988 a pedido do maestro Álvaro Cassuto para «abrilhantar» a apresentação inaugural da orquestra Nova Filarmonia Portuguesa. O concerto teve lugar no dia 22 de maio na Sala dos Espelhos do Palácio de Queluz, e também teve o propósito de homenagear o compositor. A peça de Joly Braga Santos abriu a segunda parte, tendo sido seguidamente tocada a primeira sinfonia de Beethoven. O desafio era circunstancial, portanto. Pretendia-se assinalar de maneira concisa e exuberante um momento festivo. Mas foi bastante além. Tornar-se-ia na sua obra mais regularmente programada nas salas de concerto.
O título advém da rápida sucessão de semi-colcheias tocadas em staccato; ou seja, ouvindo-se nitidamente separadas umas das outras. «Brilhante», é a condição natural de todas as orquestrações de Joly Braga Santos. É uma partitura onde se destacam breves rasgos melódicos que servem de impulso para gestos exclamativos. A profusão rítmica equilibra-se entre o entusiasmo e a inquietação. A interação entre os diferentes naipes e as mudanças dinâmicas repentinas proporcionam um sentido dramático que contagia na alternância entre a contenção e o êxtase. Espelha-se assim a personalidade do compositor, plena de vivacidade e lirismo, mas sobretudo com uma facilidade instintiva de comunicar com o ouvinte. É um jorro de inventividade diante do qual ninguém fica indiferente. Uma explosão de criatividade num final de vida que se precipitou sem dar aviso.
Rui Campos Leitão