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Sinfonia N.º 9 de Vasco Martins

Apontamento sobre a Sinfonia N.º 9, Oceano Atlântico

[Texto do compositor Vasco Martins]

 

Vivo na ilha de São Vicente em Cabo Verde. Uma pequena ilha de 29 por 16 quilómetros. É onde tem sido o meu epicentro de criação. Um ponto quântico neste planeta. Mas rodeada, como todo o querido arquipélago, pelo grande Oceano Atlântico, essa titânica ponte entre povos e civilizações. O mar começou a constituir para mim uma espécie de entidade própria e esse sentir ao longo dos anos, aprofundou-se quando comecei a caminhar nos litorais, de dia e à noite, ouvindo o eterno canto das vagas, observando as baleias Jubarte, os golfinhos, os tubarões, as esplendidas aves migratórias, as águias-do-mar, os corais, as tartarugas, a vida épica dos pescadores de botes à vela feitas de sacos de milho, azul-turquesa, azul-profundo, os ventos alísios, nuvens estratos-cúmulos, a chegada das chuvas, a Lua, as constelações, os planetas que nascem por cima da ilha de Santa Luzia.

Assim, a partir de 2008 foi nascendo esta sinfonia que já teve um só andamento. Mas à medida que ‘ouvia o que o oceano me queria dizer’, continuei a escrever mais notas, mais compassos, mais orquestrações, guardando alguns, dissolvendo outros. Finalmente, ficou com 4 andamentos. É uma sinfonia que pretende ser evocativa e talvez imagética. Ambientes meditativos, uns épicos, outros de dança (porque o Oceano dança) outros algo tumultuosos, uma cana de bambu produzindo harmónicos, um assobio de pastor de cabras que um dia vi inesperadamente no litoral Este. Foram sete ou oito anos de criação. Linguagem modal, simples, algumas massas orquestrais, devaneio, fluir da espuma das ondas. Ode sinfónica ao Oceano Atlântico que beneficamente oferece energia à humanidade. Que o protejam! Que protejam este Planeta e os seus seres.

 

Outubro de 2024

 

Imagem: https://vascomartins.com