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Requiem de Mozart

O Requiem é uma das criações mais célebres de Wolfgang Amadeus Mozart. Escrita para quatro cantores solistas (soprano, contralto, tenor e baixo), coro e orquestra, contém excertos que são universalmente reconhecidos como monumentos sublimes da História da Arte.

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Apesar das imensas dificuldades que Mozart enfrentou ao longo da vida, o seu talento era amplamente reconhecido à data da morte. Em parte por ser tão prematura, esta permitiu alimentar uma devoção que se estendeu aos nossos dias e que até deu azo a relatos inverosímeis sobre episódios biográficos do músico austríaco. Um dos casos mais emblemáticos é a história da recepção do Requiem. Aí acham-se «ingredientes» fundamentais para um romance irresistível, tais como a entrega incondicional do génio à sua arte, personagens misteriosas que omitem a identidade, conspiração e, porventura o mais importante, a Morte – esta última reforçada pelo género musical que lhe está mais diretamente relacionado.

A Missa de Requiem é uma celebração fúnebre do ritual cristão que, na sua expressão musical, consiste em cantar passagens bíblicas e orações referentes à entrada dos mortos no reino dos céus. Para lá das partes que constituem a estrutura formal de qualquer missa, tais como o Kyrie, o Sanctus e o Agnus Dei, também integra secções mais específicas, em particular o Confutabis, onde são evocadas as almas condenadas e lançadas às chamas do inferno.

Mozart morreu em dezembro de 1891. Em julho desse ano havia recebido uma encomenda por parte de um aristocrata vienense, Franz Walsegg von Stuppach. A composição destinava-se à evocação póstuma de sua esposa, falecida em fevereiro do mesmo ano. Por essa altura, o músico estava extremamente ocupado, o que o obrigava a dispersar a sua atenção por outras obras de grande importância – designadamente, a ópera séria La Clemenza di Tito, destinada à coroação do Imperador Leopoldo II e cuja estreia veio a ter lugar em Praga no mês de setembro, e também o singspsiel A Flauta Mágica, entre outras. Quando morreu, o Requiem não estava terminado. Afinal, a efeméride que se destinava a celebrar só se cumpria dois meses mais tarde – haveria tempo! Para conseguir aceder ao dinheiro da encomenda, a viúva de Mozart pediu a Franz Xaver Süssmayr (1766-1803) que a completasse. Süssmayr foi o músico que assistiu Wolfgang nos derradeiros meses de trabalho e, por essa razão, aventurou-se a completar a orquestração da Sequenza e do Offertorium. Mais ainda, a compor a partir de «quase nada» o Sanctus, o Benedictus e o Agnus Dei. Numa carta datada de 1800 e dirigida ao primeiro editor, Süssmayr escreveu assim:

«Coube-me a mim essa tarefa, talvez porque fosse conhecido que ainda em tempo de vida do compositor eu cantei e toquei bastantes vezes com ele as partes que já estavam compostas. Ele falava frequentemente sobre detalhes da composição e explicava-me o sentido da sua instrumentação. O mais que posso desejar é que, pelo menos, eu tenha conseguido que os melómanos sejam capazes de encontrar aqui e acolá alguns traços dos seus inolvidáveis ensinamentos.»

 

Rui Campos Leitão