Antonio Vivaldi compôs centenas de concertos. Estes podem dividir-se em diferentes categorias. A maior parte está escrita para um instrumento solista acompanhado por orquestra de cordas e baixo contínuo; são mais de trezentos. Destacam-se o violino, o violoncelo, a flauta, o oboé e o fagote, entre outros. Existem depois algumas dezenas de concertos com dois ou mais solistas. E outros, ainda, em que um grupo de solistas se faz acompanhar somente pelo baixo contínuo, dispensando a orquestra. Por fim, há mais de quarenta concertos para orquestra de cordas e baixo contínuo – sem solistas, portanto. Acham-se entre estes os RV 151, 152 e 157.
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Na primeira metade do século XVIII, a denominação Concerto correspondia a diversos formatos. Genericamente, refere um grupo de instrumentistas que, tocando em conjunto, também se confrontam entre si. Para lá das melodias, das combinações intervalares e dos ritmos, este é um dispositivo musical que se distingue pela «retórica» instrumental; ou seja, na maneira como os diferentes instrumentos intervêm em cada momento e nas variações dinâmicas abruptas. Desde o seu surgimento, o Concerto revelou-se muito atrativo para as audiências, pela riqueza tímbrica e, sobretudo, pelo paradoxo de fazer coexistir a harmonia e o conflito, que são elementos intrinsecamente teatrais.
As motivações para a composição destas obras seriam variadas. Eram parte da rotina profissional do músico e, por isso, são hoje muito difíceis de datar. O RV 157 terá sido composto em meados da década de 1720 e dedicado ao embaixador francês em Veneza, porventura para uma situação de convívio social promovida por aquela personalidade. O primeiro andamento tem uma particularidade curiosa. No lugar da expectável forma Ritornello, a qual consiste na alternância entre secções mais livres com um refrão que se repete, apresenta-se um tema seguido de variações. De resto, não foge aos tradicionais três andamentos da época: Rápido-Lento-Rápido.
Encontramos esta mesma a estrutura nos RV 151 e 152, acabados exemplos do estilo enérgico e das melodias sedutoras que estamos habituados a associar a Vivaldi. Estes concertos terão sido igualmente compostos em Veneza, porventura para o Ospedale della Pietá, instituição de acolhimento de meninas órfãs que dava grande relevo ao ensino e à prática da música. O primeiro, conhecido como «Alla rustica», irrompe com uma pujança que lembra uma dança rústica – o que explica o cognome. O Adagio central faz prova de como a beleza pode ser alcançada por intermédio da simplicidade. No terceiro andamento regressa o vigor rítmico, com um tema que também se parece com uma melodia tradicional. Já no RV 152, sobressaem as texturas contrapontísticas; ou seja, o modo como as diferentes «vozes» se articulam entre si ao longo do tempo. No último andamento é possível identificar as sucessivas entradas das linhas melódicas, em forma de Fuga.
Rui Campos Leitão