Pedro Faria Gomes vive hoje no Reino Unido, onde é Professor Titular em Composição na Universidade de Cardiff. Já em 2006 era um valor seguro entre os compositores portugueses da sua geração, com uma escrita muito afirmativa em que a comunicação com a audiência se estabelecia convincentemente. Foi nesse ano que a Metropolitana o convidou para compor uma obra com narração a estrear no palco do Teatro São Luiz num espetáculo destinado aos mais jovens. Nascia assim O Violino Cigano.
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Na origem, O Violino Cigano é um conto tradicional sobre a magia endiabrada de um violino. Conta a lenda de como este instrumento se tornou popular na cultura dos povos ciganos na Europa Central e de Leste. No final, lembra-nos que «ninguém resiste à música do violino cigano. Se ela for triste, todos ficam tristes; mas quando é alegre, todos têm vontade de rir e dançar». Pedro Faria Gomes deixou-se assim encantar pela ancestralidade deste texto, e nem sequer sentiu a obrigação de contornar o caráter ligeiramente sombrio que o atravessa. Sobrepôs o narrador e a orquestra, ora em alternância ora em sobreposição, numa partitura em parte descritiva que encontra na narrativa o principal motivo inspirador. Na prática, percorre diversos ambientes expressivos: desde logo, numa vertente descritiva que dialoga com o contexto cénico; apresenta depois ideias melódicas e rítmicas que parecem ilustrar os momentos mais marcantes da narrativa; por fim, participa ativamente no desenrolar da ação, como se também ela fosse personagem.
Resulta assim uma obra que não se restringe na atenção das crianças. Estas terão porventura maior disponibilidade para ouvir estórias. Mas também são sensibilizadas pela combinação do texto com a música – talvez sem se aperceberem. Os mais crescidos deixar-se-ão fascinar também pela estrutura da obra e pela articulação dos recursos dramatúrgico-musicais. Há, porém, algo que se sobrepõem a tudo isto: um imaginário fascinante que se contrói na combinação da Música com a Palavra.
Rui Campos Leitão