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Noturno

Com apenas 21 anos de idade em 1918, António Fragoso frequentava a Classe de Leitura de Partituras de Luís de Freitas Branco e terminava o Curso de Piano no Conservatório Nacional. Aventurava-se então pela primeira vez a compor para orquestra, um Noturno. Morreu em outubro, vítima, entre tantas outras, da gripe espanhola.

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Género musical com origem no século XIX, o Noturno vagueia pela expressão confidente e enigmática de atmosferas sombrias. É herdeiro das Serenatas compostas por compositores como Haydn e Mozart para os pequenos ensembles instrumentais que tocavam em situações informais de convivência social, usualmente ao ar livre. Limitava-se, porém, à poética intimista do piano solo.

Foi, precisamente, para este instrumento que António Fragoso compôs em 1917 dois noturnos. Então, o maestro David de Souza, titular da orquestra do Conservatório, desafiou o jovem a adaptar um deles para orquestra. Alguns pormenores da partitura ficaram inacabados, tendo o manuscrito sido recuperado e cuidado mais tarde pelo compositor Jorge Croner de Vasconcellos. São cerca de oito minutos de música em que se repete obstinadamente uma melodia. Instala-se assim um estado contemplativo de grande beleza. Para lá dos românticos, ressalta ainda a afinidade com algumas das principais características do impressionismo musical, tais como progressões harmónicas difusas, a delicada construção de texturas sonoras e a aversão aos excessos expressivos.

 

Rui Campos Leitão