O legado de Vincent d’Indy tem sido bastante negligenciado, comparativamente aos de contemporâneos seus também franceses, como Debussy e Ravel. A Suíte ao Estilo Antigo é uma das suas primeiras criações. Composta em 1886, é estilização de uma suíte do período barroco, uma tendência percursora daquilo a que se chamou mais tarde Neoclassicismo.
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No final do século XIX coexistiam estilos musicais muitos diversos. Foi tempo das sinfonias de Brahms, das últimas óperas de Verdi, dos poemas sinfónicos de Richard Strauss, dos bailados de Tchaikovsky, das danças eslavas de Dvořák… Foi também tempo de olhar para o passado e resgatar repertório que se encontrava esquecido, a que chamamos hoje Música Antiga. Discípulo de César Franck, Vincent d’Indy foi um dos fundadores da Schola Cantorum, em 1896, instituição de ensino parisiense focada no canto gregoriano e na polifonia renascentista cristã. Foi nessa escola professor de alunos como Erik Satie, Albert Roussel, Joaquin Turina, Artur Honegger, Darius Milhaud, Edgard Varèse e Francisco de Lacerda. Mas o seu leque de interesses era bastante vasto e muito eclético. Compositor, maestro, organista e pedagogo, era entusiasta do romantismo wagneriano, da tradição popular francesa e da recuperação de compositores do passado, tais como Monteverdi, Carissimi, Charpentier, Lully, Rameau, Gluck e Bach.
A Suíte ao Estilo Antigo foi composta por encomenda de Émile Lemoine, engenheiro civil, matemático, trompetista amador e fundador de um agrupamento de música de câmara denominado «La Trompette». Apesar da rivalidade assumida entre os dois compositores, tem várias semelhanças com o Septeto Op. 65 que Camille Saint-Saëns compusera seis anos antes para aqueles mesmos músicos. Vincent d’Indy manteve o trompete e o quarteto de cordas. Substituiu, porém, o piano por duas flautas. Quando a suíte voltou a ser tocada em 1887 na Société Nationale de Musique, juntou o contrabaixo, do qual também havia abdicado. São cinco danças de corte atravessadas por um motivo temático comum e harmonias reminescentes de um passado idealizado, mas que de modo algum se assemelha a um pastiche. Pelo contrário, identificava-se com uma tendência inovadora à época e que veio a ser prosseguida por compositores como Prokofiev, Respighi, Milhaud, Poulenc, Copland, Stravinsky e tantos outros.
Rui Campos Leitão