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A Abertura da Ópera «Don Giovanni»

Entre o drama e a comédia, Don Giovanni, de 1787, é uma ópera dramaturgicamente brilhante. A personagem principal não é somente um nobre depravado que promete casamento às donzelas abandonando-as de seguida. Desafia-nos a questionar o mito do herói. Revela-se uma identidade complexa que vai ao encontro da dimensão humana e tolerante do libreto de Da Ponte. Na peça de abertura, a orquestra apresenta excertos musicais que vão surgindo ao longo do espetáculo. Sintetiza os elementos dramáticos essenciais, os conflitos e as motivações.

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A trama tem lugar numa cidade de Espanha e relata as últimas horas de vida de um sedutor de mulheres, um nobre de vida devassa. A abertura instrumental, que foi composta de um só jorro, introduz-nos imediatamente no enredo. Permite-nos distinguir duas partes. A primeira desenvolve-se num clima misterioso no qual o rufar dos tímpanos não augura nada de bom. Também se ouve uma melodia que se reconhece já perto do final da ópera, quando uma estátua do então já defunto Comendador se mostra para reclamar o arrependimento de Don Giovanni e fazer justiça. Esta foi a primeira vez que Mozart iniciou uma abertura com um andamento lento; só o repetiu em Così fan tutti e em Die Zauberflötte. Depois, vai emergindo a sua inventividade melódica, com várias ideias musicais que se sucedem com grande fluidez. É música de cena que cria expectativa para tudo o que se segue – e que não é pouco.

 

Rui Campos Leitão