Datado de 1982, o Quarteto de Cordas que preenche a primeira metade deste programa pertence ao último período criativo de Fernando Lopes Graça, no seguimento da Revolução dos Cravos, e da composição de obras como as Canções Heróicas ou o Requiem: pelas vítimas do fascismo em Portugal. Na mais respeitosa reverência pela tradição clássica, dispõe os quatro andamentos numa animada «conversa» entre violinos, viola e violoncelo – de iguais para iguais. No todo, espelha exemplarmente o desígnio intelectual e estético que orientou a vida do compositor tomarense. Resulta de um esforço de síntese entre uma musicalidade com raízes na tradição popular e os recursos mais sofisticados da música erudita. Ambas coincidem, deste modo, numa mesma pauta, sublimando em tensão dramática um confronto de universos distantes, na eterna busca de uma coexistência harmoniosa idealizada.
Depois de Lopes Graça, recuamos quase dois séculos para ouvir a derradeira composição de Ludwig van Beethoven. Terminado em outubro de 1826, cinco meses apenas antes da morte do músico alemão, o Quarteto de Cordas Op. 135 rematava com frieza e sobriedade um legado que ecoou profunda influência nas gerações de compositores subsequentes. Em matéria de quartetos de cordas, ficavam para trás os clássicos Op. 18, os irreverentes quartetos Razumovsky, o esplendoroso Op. 74 ou o enigmático Op. 95. Neste seu último fôlego, Beethoven parece recuperar a contenção expressiva e o rigor formal dos primeiros anos de Viena. Mas ao virar das páginas desvela-se uma qualquer forma de desapego em que o músico, mais do que lançar reptos ao futuro, parece dialogar consigo próprio por entre argumentações indecifráveis.
SOLISTAS DA METROPOLITANA
F. Lopes Graça Quarteto de Cordas N.º 2, LG 87
L. v. Beethoven Quarteto de Cordas N.º 16, Op. 135
José Pereira violino
Joana Dias violino
Joana Cipriano viola
Catarina Gonçalves violoncelo
ENTRADA LIVRE
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