Num dos livros publicados por Michel de Montaigne em finais do século XVI, lê-se que o espírito humano ganha uma maravilhosa clarividência quando viaja pelo mundo, e também que é (mau) hábito recolhermo-nos em nós mesmos, com a vista limitada ao comprimento do próprio nariz. Transportados aos nossos dias, e numa altura em que celebramos o quinto centenário da primeira volta ao mundo completada pela frota de Fernão de Magalhães, é oportunidade para lembrarmos o quão frequentemente também a música encontra propósitos e razão de ser em paragens distantes. Neste primeiro programa da Temporada Clássica da Metropolitana 19/20, juntam-se três obras do repertório orquestral que ilustram isso bem. A Sinfonia N.º 31 de Mozart foi composta na cidade de Paris em 1778, quando o jovem músico austríaco procurava abrir novos mundos à sua carreira de compositor. Mais bem-sucedido, Haydn era generosamente acolhido pelo público londrino em final de carreira. A Sinfonia N.º 104 data de 1795 e foi a última que escreveu aquando da sua segunda permanência na capital inglesa. Já em 1877, Tchaikovsky viajou até ao passado, com sete variações sobre uma melodia que recria o estilo musical setecentista.
ÁLBUM DE VIAGEM
Orquestra Metropolitana de Lisboa
W. A. Mozart Sinfonia N.º 31, KV 297/300a, Paris
P. I. Tchaikovsky Variações sobre um Tema Rococó, Op. 33
J. Haydn Sinfonia N.º 104, Londres
Catarina Gonçalves violoncelo
Pedro Neves maestro
