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Ópera Domitila leva OML hoje ao Grande Auditório do CCB

Os amores proibidos e escondidos de D. Pedro IV e a Marques de Santos, em pleno século XIX, são o pano de fundo para Domitila, a ópera encomendada pelo Centro Cultural de Belém e que junta, este domingo à tarde (17h00), a soprano Carla Caramujo à Orquestra Metropolitana de Lisboa.

São duas efemérides numa só que dão palco a “uma tarde ao mais alto nível”. “O facto de estarmos a comemorar os 200 anos da Independência do Brasil e os 200 anos daquela que foi a primeira Constituição da República Portuguesa, a Constituição Liberal de 1822, não podia passar ao lado da programação do CCB”, explica André Cunha Leal, programador do Centro Cultural de Belém.

E há uma figura que se distingue naturalmente. É D. Pedro IV de Portugal, D. Pedro I do Brasil. “E por isso mesmo, o CCB decidiu desenvolver toda uma programação em que esse período fosse revisitado”. E é aqui que Domitila surge no sítio certo. “Porque fala exatamente desse protagonista que é D. Pedro IV. E de uma forma muito operática, porque fala dos amores proibidos”, acrescenta o responsável.

A ópera que sobe ao palco do Grande Auditório do CCB este domingo às 17h00 foi escrita pelo compositor brasileiro João Guilherme Ripper, é dirigida pelo maestro Tobias Volkmann e tem como protagonista a soprano Carla Caramujo, acompanhada pela Orquestra Metropolitana de Lisboa.

“Estamos numa típica história de amor proibido, ou amor escondido, ou amor não consentido entre D. Pedro IV e a Marquesa de Santos, que teve um grande impacto. Numa altura em que se reflete tanto o lugar da mulher e o pensamento da mulher, podemos olhar diretamente para D. Pedro IV e para esta relação através das cartas da própria Marquesa de Santos. É no fundo o olhar feminino, o olhar desta mulher que amava o rei mas que não poderia assumir e tê-lo de pleno direito”, relata André Cunha Leal.

Domitília é a ópera brasileira contemporânea mais vezes feita na versão de câmara, ou seja para piano, clarinete e violoncelo. E foi assim que ela chegou a Portugal, nessa versão de câmara. A ideia de a trazer as Portugal numa versão orquestral aconteceu numa “cimeira” luso-brasileira a bordo de uma barca, durante o Festival de Belém do Pará, recorda o programador do CCB.

A soprano Carla Caramujo
FOTOGRAFIA: Sónia Godinho – Sofia Lima Atelier

André Cunha Leal nota que “há uma relação muito íntima entre a escrita do João Guilherme Ripper e a vocalidade da Carla Caramujo. Ela é a musa dele. E isso é muito claro na Domitília, mas também nas Cartas Portuguesas ou nos Cinco Poemas de Vinicius de Moraes”.

A Orquestra Metropolitana surge como uma quase inevitabilidade. “Primeiro, porque é o parceiro óbvio do CCB”, depois porque “há um reconhecimento óbvio da Orquestra Metropolitana de Lisboa, talvez o agrupamento que mais cresceu em termos de qualidade nos últimos anos, e que marca de forma positiva o panorama musical português”.

E esse reconhecimento, constata o responsável pela programação do CCB, “não é só cá em Portugal como lá fora, porque tanto o compositor João Guilherme Ripper, como o maestro Volkmann mostraram automaticamente a sua concordância”. “E isso é notável, porque quer dizer que este trabalho que tem sido desenvolvido ao longos dos últimos anos, nomeadamente pelos maestros Pedro Amaral e Pedro Neves, é reconhecido lá fora. As pessoas estão atentas e querem trabalhar com a OML”.

A versão que os espectadores vão ver e ouvir este domingo à tarde é, pois, uma versão mais sinfónica do que a ópera de câmara que já foi tantas vezes tocada no Brasil. “Houve uma preocupação que a orquestração da escrita de João Guilherme Ripper fosse ao encontro das particularidades da Orquestra Metropolitana de Lisboa e da excelência dos seus músicos. Quero chamar a atenção para os grandes solos de clarinete, que é uma das características que permanece da versão de câmara”.

Carla Caramujo, já cantou a ópera na versão de câmara, está entusiasmada com esta nova dinâmica. “É um prazer, mas também uma enorme responsabilidade, porque a Domitila que eu cantei, em conjunto de câmara é algo mais intimista. Aqui não, teremos uma orquestra, há uma nova dinâmica que será apresentada”, diz a soprano, que vê com “grande alegria” este seu regresso.

“O que os espectadores vão poder ver é uma verdadeira ópera do início ao fim: orquestra com fosso, cantora em cena, cenografia e vamos mergulhar no lado mais íntimo dessa relação entre D. Pedro IV e a Marquesa de Santos a um nível musical de excelência”, sublinha André Cunha Leal, que não tem dúvida que “será uma grande tarde no CCB”. “Temos uma soprano que domina completamente a linguagem deste compositor e um maestro de primeiríssima água e que vale a pena conhecer, até porque é a sua estreia em Lisboa. Ele já dirigiu em Portugal no passado mas foi no Porto”, conclui.