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Uma Pavana Defunta?

Maurice Ravel compôs a Pavane pour une infante défunte em 1899 para ser tocada ao piano. Já em 1922 gravou a sua interpretação em rolo de papel perfurado. Ao ouvir a reprodução, percebemos melhor o célebre comentário que dirigiu certa vez a um melómano que acabara de tocar a peça: «Atenção meu caro, o título não é ‘Pavane défunte pour une infante’»

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A «Pavana para uma infanta defunta» de Maurice Ravel é um breve poema sinfónico de nostálgica beleza que nos convida a imaginar uma jovem princesa espanhola dançando ao longe, no seu palácio. Na verdade, o lamento dirige-se aqui a uma princesa que nunca existiu, já que, para a escolha do título, nada mais terá contribuído do que a sonoridade do dizer «Pavane pour une infante défunte». Sobre o ritmo processional da Pavana, uma dança italiana que em Espanha derivara em associações fúnebres, Ravel inspirava-se na influência de sua mãe, que vivera muitos anos em Madrid.

Na origem, foi uma obra para piano escrita em 1899, quando o autor do Bolero ainda frequentava o Conservatório de Paris, na classe de Gabriel Fauré. Cedo se tornou muito popular entre os intérpretes amadores e uma das suas composições mais apreciadas, plena de melancolia e suavidade. Apesar de a intenção inicial ter sido a mera realização de um exercício académico, foi tal o sucesso que acabou por preparar em 1910 a versão orquestral que hoje conhecemos.

No dia 30 de junho de 1922 gravou em Londres a sua própria interpretação ao piano num sistema de registo em cartão perfurado. Reflete aí uma leitura sóbria e precisa, que não busca refúgio na expressão elegíaca que se poderia esperar. Percebe-se melhor, assim, o célebre comentário que dirigiu numa certa ocasião ao melómano pianista Charles Oulmont que acabara de tocar a peça: «Atenção meu caro, o título não é ‘Pavane défunte pour une infante’».

Rui Campos Leitão

 

Vídeo: Maurice Ravel ao piano em 1922 na interpretação da peça Pavane pour une infante défunte; registo em sistema de rolo de papel perfurado.

 

Foto: Maurice Ravel ao Piano em 1912 ou 1913 | Fonte: BnF Gallica