Contrariando a opinião corrente de que o génio romântico é um sujeito inevitavelmente incompreendido pelos que o rodeiam, a estreia da Sétima Sinfonia de Beethoven, em 1813, foi um assinalável sucesso. Já antes, o compositor alemão havia alcançado a fama e tornara-se num dos compositores mais respeitados da época, em particular no domínio da música instrumental, já que Rossini começava a conquistar os teatros líricos de toda a Europa.
**
Entre 1805 e 1809, a cidade de Viena esteve sob ocupação. Só em 1813 os austríacos respiraram fundo, depois da derrota de Napoleão Bonaparte na Batalha das Nações, em Leipzig, e da Batalha de Hanau, que ocorreu duas semanas depois, a 30 de outubro. Muito embora esta última não tivesse resultado na aniquilação definitiva das tropas francesas, traduziu-se, na prática, numa retirada. No ano seguinte as tropas aliadas entravam em Paris, e Napoleão procurava refúgio na ilha italiana de Elba. Uma vez ultrapassados todos aqueles anos de sofrimento, celebrava-se a bravura das tropas austríacas com entusiasmo.
Com sentido de oportunidade, Johann Mälzel, o homem que ficou equivocamente associado à invenção do metrónomo, propôs a Beethoven a realização de um concerto de beneficência, como tributo em favor das famílias dos militares que perderam a vida. O concerto realizou-se passadas poucas semanas, no dia 8 de dezembro, na Universidade de Viena, com uma orquestra constituída ad hoc. Faziam dela parte alguns dos músicos mais prestigiados da cidade, tais como Giacomo Meyerbeer, Antonio Salieri e Louis Spohr. Apesar das indisfarçáveis carências auditivas, a direção musical foi confiada ao próprio compositor, o que nos permite hoje adivinhar a reverência que para com ele mantinham quer o público quer os seus pares.
Entre as obras que se fizeram ouvir, terá sido a A Vitória Wellington aquela que arrebatou maiores aplausos. Mas a estreia da Sinfonia N.º 7, apesar de ter sido escrita um ano antes, também conquistou os corações da plateia. O vigor rítmico e a disposição festiva da partitura adequava-se certeiramente à ocasião. A cadência pesarosa do segundo andamento também, pelo que se exigiu a sua repetição. Em virtude do sucesso do acontecimento, o mesmo programa foi retomado alguns dias mais tarde, e a sinfonia foi tocada por diversas vezes nas semanas seguintes. Em fevereiro de 1814 juntou-se à Sinfonia N.º 8, que aguardava igualmente estreia desde o verão anterior. Vieram ambas a ser publicadas em conjunto, já no final de 1816.
Rui Campos Leitão