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Um Concerto de «Boas Vindas»

Durante quase três décadas, Joseph Haydn liderou a excelente orquestra privada da família Eszterházy. Os primeiros anos foram marcados por um forte investimento na escrita concertante, pensada para os instrumentistas recém-chegados. Compôs assim vários concertos, alguns dos quais para trompa. O objetivo era dar a oportunidade aos novos músicos para mostrar ao príncipe todas as suas capacidades competências. No caso do Hob. VIId:3, tratar-se-ia de Joseph Leutgeb, o mesmo músico para quem Mozart escreveu os seus quatro concertos para trompa.

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Na segunda metade do século XVIII, o Concerto, enquanto género musical, representava para os compositores a oportunidade de evidenciar e explorar as características técnicas e expressivas de um instrumento, ou as capacidades de um determinado instrumentista. Tratava-se, portanto, de uma demonstração de competências. Frequentemente, eram os próprios compositores que se apresentavam como solistas, de maneira a evidenciar diante do público e dos patronos a própria condição de virtuoso. Entre os casos mais célebres daquele tempo, contam-se os de Luigi Boccherini (1743-1805; violoncelista) e de Giovanni Battista Viotti (1755-1824; violinista), para lá, naturalmente, dos pianistas Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven. Não era, todavia, o caso de Joseph Haydn. Muito embora se tenha distinguido enquanto músico desde tenra idade, por intermédio da sua belíssima voz, e de também saber tocar cravo e violino, não era um músico intérprete de nível profissional. No seu caso, tinha como instrumento a orquestra, por sinal, um recurso dispendioso de que poucos dispunham. O privilégio era tanto maior quanto a extraordinária qualidade que tinham os músicos que acompanhavam a família Eszterházy entre os palácios de Fertőd e de Viena. Era sua competência cuidar de todos os aspetos que envolvem o desempenho de uma orquestra, desde a seleção dos músicos até à música que era tocada.

Em 1762, o príncipe Nikolaus ascendeu ao trono. Em consequência disso, houve então a oportunidade de contratar alguns dos melhores músicos que trabalhavam em Viena. Foi o caso do trompista Joseph Leutgeb (1732-1811). Muito embora tenha permanecido escassos meses ao serviço da corte, foi tempo suficiente para dar origem a um concerto cuja exigência técnica só estaria ao alcance dos melhores intérpretes, tendo em consideração que naquele época ainda não havia sido introduzido o sistema de válvulas que tanto facilita a obtenção de algumas notas naquele instrumento. Só os trompistas mais capacitados conseguiam dominar a sofisticação técnica que permitia explorar toda a tessitura do instrumento, desde os graves até aos agudos, e fazer soar uma escala cromática numa trompa natural com os simples recursos do controlo da embocadura e do posicionamento da mão dentro da campânula.

Haydn terá escrito cerca de uma dúzia de concertos para instrumentos de sopro. Dois deles são concertos para trompa e aparecem referenciados num catálogo do próprio compositor, muito embora se tenham perdido. Curiosamente, este que agora tem o número de catálogo Hob.VIId:3 não aparece aí indicado. Mas a partitura que nos chegou é um manuscrito autógrafo, pelo que não levanta dúvidas a atribuição da autoria. Há ainda um quarto que aparece listado como Hob.VIId:4, mas que poderá ter sido composto por seu irmão, Michael Haydn, ou por outro compositor.