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Um Andante Alternativo

O Andante em Dó Maior para flauta e orquestra foi composto durante os quatro meses em que Mozart permaneceu em Mannheim, no decurso da digressão que então fazia por vários países da Europa. Há quem relacione a sua melodia com a cena d’A flauta mágica em que Tamino, acompanhado por Tamina e sob proteção do som da flauta, consegue vencer as provas da água e do fogo.

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Mozart partiu de Salzburgo em setembro de 1777. Passou primeiro por Munique e por Augsburg antes de chegar a Mannheim, um dos centros musicais mais importantes da época. Conheceu aí Johann Baptist Wendling, um exímio flautista que estava ao serviço da corte e lhe conseguiu uma encomenda de grande valor, dada a precariedade financeira do músico. O mecenas era Ferdinand Dejean (1731-1797), um médico e físico reputado de origem holandesa, muito viajado pelo mundo e que então se encontrava em Mannheim. Pretendia um conjunto de partituras que ele mesmo pudesse tocar na flauta. Mozart demorou algum tempo a responder à encomenda. Na data em que Dejean partia para Paris, Mozart alegou já ter entregue os dois concertos e os três quartetos acordados. Em verdade, Mozart terá entregue o Concerto para Flauta e Orquestra em Sol Maior KV 313, uma transcrição de um concerto para oboé preexistente, o KV 314, e o quarteto KV 285, permanecendo hoje dúvidas acerca dos quartetos 285a e 285b. Insatisfeito, Dejean terá pago somente metade do dinheiro.

Muito embora não seja possível comprová-lo, é bastante provável que o Andante em Dó Maior tenha sido composto para substituir o andamento lento do concerto em Sol Maior referido em cima, o qual não terá agradado muito, em virtude da densidade dramática que o caracteriza. Talvez por isso, a nova composição apresente um ânimo mais afável. Por entre o registo arioso da parte solista, com toda a sua beleza, vislumbra-se uma impressão expectante introduzida pelo motivo de cinco acordes que se escuta logo de início em pizzicatos das cordas e que reaparece diversas vezes.

 

Rui Campos Leitão