A canção «Das himmlische Leben» («A vida celestial») preenche o último andamento da 4.ª Sinfonia de Mahler. É ponto de partida e ponto de chegada, a «razão de ser» da obra.
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Em 1892, Mahler escreveu uma série de canções sobre poemas anónimos alemães que haviam sido reunidos e publicados no início do século XIX, numa coleção com o título «Des Knaben Wunderhorn» («A trompa mágica do rapaz»). Várias dessas canções foram mais tarde publicadas em versão para soprano (ou barítono) e orquestra, mas uma delas teve um destino muito especial. A ideia de integrar «Das himmlische Leben» numa sinfonia surgiu quando o compositor escrevia a Sinfonia N.º 3, terminada em 1896. Mas acabaria por integrar o último andamento da Sinfonia N.º 4, já em 1900. Mais do que um simples andamento, tornou-se referência fundamental da construção de toda a obra.
Ela é ponto de partida e ponto de chegada, a «razão de ser» da sinfonia. Como se de um puzzle se tratasse, vão-nos sendo revelados fragmentos da canção ao longo dos três primeiros andamentos. Desde logo com as guiseiras, que se ouvem no início, as quais surgem durante a canção nos interlúdios entre os versos. Ao longo da partitura, vão sendo combinados diferentes pedaços da canção. Esta vai-se revelando à medida do tempo, surgindo de cada vez mais explícita, até que no final se ouve por inteiro. Nesta sinfonia, tudo acontece em função de uma canção. São cinco versos em que vozes de crianças nos falam do reino dos céus, sobre a forma como aí vivem, com alegria, evitando quaisquer influências mundanas. Sob o olhar atento de São Pedro, saboreiam os prazeres da comida, os cheiros das plantas, cantam, dançam, saltam, pulam… e ouvem música celeste.