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Sinfonia de Abril

[Texto do compositor João Guilherme Ripper – abril de 2024]

Sinfonia de Abril é resultado da prestigiosa encomenda do Ministério das Relações Exteriores do Brasil para as Comemorações do Cinquentenário do 25 de Abril. A obra integra a série de minhas composições criadas especialmente para instituições portuguesas como a ópera Cartas Portuguesas (Fundação Gulbenkian, 2020), a versão da ópera Domitila com orquestra sinfónica (CCB e Metropolitana, 2022) e Pequeno Concerto para Mafra (Palácio Nacional de Mafra, 2023).

Assisti a documentários e li inúmeros artigos sobre o 25 de Abril, reproduzindo o método auto-indutivo que sempre adoto quando vou abordar um novo tema em ópera. Adotei três imagens poéticas que nomeiam os andamentos de Sinfonia de Abril. O primeiro,«As ruas de Lisboa», procura retratar os diversos cantos e músicas simultâneas e superpostas que eram ouvidas naquele dia nas vias da capital. Utilizei para isso o politonalismo, o contraste de timbres e dinâmicas, além de fragmentos melódicos que incluem breve referência a Grândola, Vila Morena, famosa canção de Zeca Afonso que tornou-se o hino do movimento.  

Em «Vermelho: sangue e cravos» evoco as vidas perdidas em mais de 40 anos de luta pela liberdade. O andamento inicia-se com uma sucessão de acordes dissonantes em pianíssimo nos clarinetes, trompas e marimba sobre as cordas em pizzicato. A flauta apresenta a primeira frase do tema que é respondido pelas cordas. A melancólica secção central está a cargo do corne inglês, seguida pelo retorno do tema principal, desta vez tocado pelos primeiros violinos. 

O título «Terra da fraternidade» foi tirado de um trecho da letra de Grândola, Vila Morena. Estruturei o terceiro andamento como um Rondó-Sonata de forma A-B-A’-C-B-A’’ cujo refrão (seção A) é baseado no ritmo do Fandango. A contrastante secção B traz uma melodia expressiva nas cordas, seguida pelo retorno do refrão modificado (secção A’). Na secção C, utilizei o trecho inicial de Grândola, Vila Morena para construir dois cânones cerrados sucessivos nos metais e nas cordas. Após ouvirmos novamente a secção B, o retorno do Fandango (seçcão A’’) encerra a obra. 

Sinfonia de Abril é dedicada à Orquestra Metropolitana de Lisboa.