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O Violoncelo de Schumann

Robert Schumann manteve ao longo da vida uma relação muito especial com o violoncelo, em particular desde que em 1832 interrompeu a sua carreira de pianista devido a uma lesão na mão direita. Escreveu então numa carta pessoal: «Pretendo voltar a tocar violoncelo (só necessita da mão esquerda) e ser-me-á muito útil para compor sinfonias.» Nunca chegou a ser violoncelista, mas conhecia profundamente o instrumento. Estranha-se que lhe tenha dedicado somente um concerto, este mesmo que todos os violoncelistas querem hoje tocar… e nós ouvir.

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Proveniente de Dresden, a família Schumann instalou-se em Düsseldorf em setembro de 1850. Clara mantinha a sua carreira de pianista, enquanto Robert assumia as funções de Diretor de Música da cidade, na sequência da grande reputação que conquistara enquanto compositor. As dificuldades que veio a enfrentar mais tarde decorreram do seu desempenho enquanto maestro. Tinha fraca experiência de liderança e uma técnica de direção imprecisa. Mas os primeiros meses foram inspiradores. Compôs o Concerto para Violoncelo em apenas duas semanas, no mês de outubro, e logo de seguida a Sinfonia Renana. Só posteriormente se agravaram os distúrbios psíquicos e nervosos que o vinham atormentando havia largos anos. Por sinal, a partitura do concerto foi revista imediatamente antes do episódio mais trágico da sua vida. Enviou a versão definitiva para o editor no dia 21 de fevereiro de 1854 e tentou suicidar-se seis dias depois.

A obra estava feita. Assentava na qualidade do discurso musical, em detrimento do virtuosismo. Schumann parecia evitar deliberadamente qualquer tipo de exibicionismo, focando-se numa escrita substancial. Isto não quer dizer que não haja passagens de elevada dificuldade. Muitos violoncelistas concordarão que este é um concerto extremamente exigente, mas todo o esforço do intérprete é aplicado na «retórica» do discurso, na preocupação de fazer passar as nuances expressivas da composição, nas mudanças abruptas de humor tão características da personalidade do próprio compositor, no registo intenso e apaixonado do primeiro andamento, na tranquilidade do segundo, na exaltação expressiva do terceiro…

 

Rui Campos Leitão

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