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Mozart compôs quatro concertos para trompa e orquestra. Ao escutá-los, é inevitável admirarmos como o solista se apresenta de maneira tão natural e desenvolta à frente da orquestra. A este respeito, a amizade e a próxima convivência que o compositor mantinha com o trompista Joseph Leutgeb é sempre lembrada. O Concerto N.º 3 será aquele que mais desafios coloca às limitações técnicas que o instrumento ainda tinha na época. Mas tudo passa despercebido, como se de um cantor de ópera se tratasse.
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Conta-se que aos oito anos de idade Wolfgang Amadeus Mozart terá pedido à sua irmã Nannerl que o lembrasse sempre da importância de escrever muito boa música para trompa. Acontece que naquela época, na segunda metade do século XVIII, este instrumento de sopro limitava-se a cumprir no seio das orquestras uma função secundária, particularmente monótona e desinteressante para quem tocava. Em boa parte, isso devia-se ao facto de as suas características técnicas serem bastante limitadas, pois só bastante mais tarde vieram a ser introduzidos os mecanismos da trompa moderna que permitem tocar com mais facilidade aquelas melodias que estamos habituados a ouvir em instrumentos «ágeis» como a flauta ou o violino. Disposto a contrariar essa tendência, Wolfgang escreveu quatro extraordinários concertos para trompa e orquestra, todos eles em Viena, a partir de 1783. Trata-se de música bastante difícil de interpretar mas que, como sempre acontece na sua música, até parece fácil. Muitos consideram que o Concerto N.º 3 é o mais bem conseguido de todos. Está repleto de notas agudas e passagens rápidas que exigem grande virtuosismo, mas alterna com momentos de grande lirismo e encantamento melódico.
Rui Campos Leitão