O segundo dos Concertos Brandeburgueses de Johann Sebastian Bach é muitas vezes anunciado como um concerto para trompete. Na realidade, conta mais três solistas – também a flauta, o oboé e o violino sobressaem do «ripieno» composto por duas partes de violinos, uma de viola e pelo baixo contínuo, este último confiado ao violoncelo e ao cravo. O equívoco resulta da circunstância de a trompete se destacar sobremodo no último andamento, de tal maneira que esta partitura é considerada como uma das mais difíceis de todo o repertório para este instrumento.
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O Concerto Brandeburguês N.º 2 apresenta uma configuração pouco usual. O «concertino» é composto por quatro solistas, como se a ideia fosse dar relevo aos representantes de cada uma das famílias instrumentais da orquestra. Trata-se de um típico concerto grosso barroco, com três andamentos dispostos na sucessão rápido-lento-rápido e nos quais os solistas sobressaem sempre da orquestra. Porém, para lá do característico confronto entre duas partes, expõe-se numa articulação laboriosamente trabalhada entre instrumentos com timbres e amplitudes sonoras muito diferentes. É como se se assistisse a uma negociação entre quatro protagonistas, conversações diplomáticas que decorrem num equilíbrio que não compromete a afirmação de cada um deles.
Ainda assim, há que reconhecer que a trompete se destaca pelo aparato das suas intervenções. É verdade que «descansa» no andamento central, até porque a tonalidade desta secção não seria compatível com as trompetes da época. Só aparecem aí os restantes solistas, simplesmente acompanhados pelo contínuo. Já no último andamento, tudo se inverte, e a trompete apresenta-se com todo o seu esplendor. Curiosamente, a trompete também tem sido um dos principais motivos de discussão em torno desta obra, por parte dos musicólogos. Tal acontece em virtude da existência de uma cópia manuscrita que nos chegou da mesma época, a qual admite a possibilidade de aquela pauta ser tocada por um trompa natural, em virtude das dificuldades técnicas que diversas passagens colocavam ao trompetista.
Rui Campos Leitão