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Duas Melodias

São Duas Melodias assinadas por um dos compositores portugueses mais importantes do século passado, Luís de Freitas Branco. Duas peças escritas para as cordas da orquestra datadas de 1909 mas que, apesar da sua grande beleza, permaneceram esquecidas até há pouco tempo. Voltaram a ouvir-se em maio de 2006 tocadas pela Orquestra Metropolitana de Lisboa sob direção do maestro Cesário Costa.

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À entrada da idade adulta, ainda por influência de seu tio João, dramaturgo e ensaísta, Luís de Freitas Branco experimentou apropriar-se criativamente de fontes musicais pré-existentes e de origem popular. Essa atenção veio a dar frutos uma década mais tarde, quando em 1919 compôs a Suíte Alentejana N.º 1. Mas foi, efetivamente, em 1907 que aquele seu familiar o persuadiu a pegar no cante alentejano e fazer algo parecido com aquilo que Edvard Grieg fizera na década de 1870, quando se inspirou nos cantos populares escandinavos. Com efeito, ao escutarmos as Duas Melodias compostas em 1909, é bem possível recordarmo-nos das Duas Melodias Elegíacas do compositor norueguês. Estão ambas escritas para as cordas da orquestra e estendem-se num registo compassivo e dolente. Menos evidente será o cunho da tradição musical alentejana. Neste caso específico, o jovem músico preferiu dar ênfase ao enredo contrapontístico que articula as diferentes partes instrumentais entre persistentes retardos harmónicos e gestos melódicos de amplo recorte.

Mas aqueles anos eram sobretudo marcados pela difusão das novas sonoridades modernistas. Logo em fevereiro de 1910 Freitas Branco fixou-se em Berlim, e no ano seguinte em Paris, com o objetivo de aprofundar e alargar os seus conhecimentos musicais. A afetação romântica das Duas Melodias deu assim lugar a experimentações esteticamente mais arrojadas. Não espanta, portanto, que tenham permanecido esquecidas na gaveta durante muito tempo. Também não espanta que se juntem agora às suas obras mais frequentemente tocadas.

 

Rui Campos Leitão