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Concerto para Fagote de Weber

Carl Maria von Weber é sobretudo lembrado como compositor de Der Freischütz, a ópera pioneira do drama lírico germânico oitocentista. A sua música instrumental é bastante menos conhecida, mesmo daqueles que frequentam regularmente as salas de concerto. Ainda assim, merece particular atenção. Plena de expressividade, é reveladora de uma mestria técnica que se distingue no Concerto para Fagote composto em 1811 a pedido do Georg Friedrich Brandt, o fagotistas que estreou a obra no Teatro da Corte de Munique em dezembro do mesmo ano.

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A influência da ópera está presente de início ao fim deste concerto. Logo nos compassos iniciais, o som dos tímpanos deixa isso bem evidente. Depois, a primeira intervenção a solo do fagote assemelha-se à entrada em cena do protagonista de um libreto. Segue-se um tema que, repleto de apogiaturas e ornamentações, lembra de imediato o bel canto. Por sua vez, o andamento lento percorre diferentes humores, muito à semelhança do que aconteceria numa ária. E ainda no terceiro andamento, um Rondó que nos remete para a dinâmica espirituosa de uma cena teatral, com saltos intervalares pronunciados e ritmos inusitados.

Revista pelo próprio compositor em 1822, a obra reflete também uma escrita vincadamente virtuosística e a exploração expressiva do instrumento solista. Desafiava, por isso, as capacidade técnicas dos fagotistas da época, com passagens rápidas e saltos intervalares pronunciados que só vieram a ser relativamente facilitados pelas inovações organológicas introduzidas pelos luthiers nos anos seguintes. Nesse sentido, contribuiu para consolidar o lugar do fagote à frente da orquestra, deixando para traz a função de apoio rítmico e harmónico que se conhecia dos concertos de Vivaldi e de Mozart. Apresentava-se agora com uma agilidade sem precedentes e capaz de interpretar longas melodias, também nos registos médio e agudo.

 

Rui Campos Leitão

 

Imagem: Retrato de Carl Maria von Weber em 1821 / Caroline Bardua (1781–1864) / Fonte Wikimedia Commons