Joly Braga Santos combina duas características que lhe reservam um lugar de honra entre os mais notáveis compositores portugueses de sempre. A primeira é o domínio que demonstrava ter do seu métier e o profundo conhecimento que tinha da História da Música. A segunda, a que muitos chamam «talento artístico», manifesta-se na contagiante espontaneidade que de imediato reconhecemos nas suas melodias e orquestrações.
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Toda a sua música reveste-se de uma beleza cândida. Mas esconde, por detrás, uma grande erudição nos recursos técnicos utilizados. Não espanta, pois, que boa parte do seu legado esteja associada a uma estética neoclássica. Este Concerto, escrito para as cordas da orquestras, pertence à primeira fase da sua carreira e ilustra exemplarmente essa tendência. Apresentam-se os convencionais três andamentos da tradição clássica, Rápido-Lento-Rápido. Porém, a sonoridade vagamente ancestral que alguns poderão pressentir deve-se à utilização de estruturas modais emprestadas da teoria musical da Grécia Antiga. É daí que provém o título – «Concerto em Ré» –, como alusão ao modo de Ré.
No primeiro andamento, uma introdução cerimoniosa abre caminho a uma Forma Sonata com dois temas facilmente distinguíveis. Já no segundo, destaca-se a utilização de surdinas – um pequeno dispositivo que abafa a amplitude e o timbre dos instrumentos. Desenvolve-se em forma ABA, numa ambiência pesarosa sempre assente num contraponto muito cuidado. A terminar, um Rondó singularmente animado por ritmos de danças imaginárias.
Rui Campos Leitão