Este site utiliza cookies. Ao navegar no site estará a consentir a sua utilização de acordo com a nossa Política de cookies.

concordo

Concerto Brandeburguês N.º 1

O primeiro dos seis Concertos Brandeburgueses é o único que se divide em quatro andamentos, na vez dos três que se esperam de um concerto barroco. Apresenta também uma formação ligeiramente maior do que a dos restantes números do livro, incluindo oboés, fagote, trompas, violino piccolo, cordas e baixo contínuo. Por isso, é o mais inovador no que respeita à orquestração. As trompas assumem um protagonismo vincado. O fagote irrompe por vezes na condição de solista. São timbres diferentes que se revezam entre melodias e harmonias, por vezes a solo, outras em conjunto.

**

O Concerto Brandeburguês N.º 1 teve origem numa composição pré-existente. Era uma sinfonia (BWV 1046a) com três andamentos, ainda sem a parte de violino piccolo, e que se destinou originalmente à introdução instrumental da Cantata da Caça BWV 208 que em 1713 celebrou o aniversário do príncipe Christian de Saxe-Weissenfels. Bach vivia nessa altura em Weimer, portanto. Assim, o primeiro, segundo e quarto andamentos resultam da adaptação dos respetivos três andamentos daquela sinfonia, tendo sido acrescentada uma polonesa aos minuetos e trios que se alternam no último. Curiosamente, o primeiro e o «novo» terceiro andamento voltariam a ser recuperados alguns anos mais tarde, já ao serviço das igrejas de Leipzig, nas cantatas BWV 52 e BWV 207, respetivamente. Nesta última, as partes das trompas foram confiadas às trompetes, a restante música ao coro.

Trata-se de uma composição que não esconde a influência dos concertos italianos da época, em particular os de Antonio Vivaldi. Bach introduziu, no entanto, elementos que divergem bastante daquele modelo. A inclusão das trompas (corni di caccia) é disso exemplo, entre muitas outras diferenças. Desde logo, no primeiro andamento, não assistimos à alternância de registos contrastantes numa sucessão previsível de episódios e ritornellos. Isso acontece porque Bach sobrepõe duas trompas, três oboés, fagote e cordas, deixando claro que não pretendia replicar o concerto para cordas ao estilo italiano. Mais parece ser, portanto, a abertura instrumental de uma obra vocal sacra ao estilo germânico – o que era, de facto.

Outro dos aspetos que se destacam nesta obra é a sofisticação formal e a complexidade contrapontística. Por isso reconhece-se um efeito de continuidade na coerência discursiva com que os motivos se entrelaçam ao longo do tempo. O primeiro e o terceiro andamentos têm um tempo rápido, particularmente propício a demonstrações de virtuosismo. O segundo, terno e expressivo, dispõe um diálogo entre oboé e violino sobre a pulsação obstinada do baixo contínuo. Por fim, ouve-se uma breve suíte de danças que mais parece ter como propósito amenizar a intensidade expressiva do que se passou anteriormente.

Rui Campos Leitão

Artigos Relacionados