Já em 1945, Fernando Lopes Graça convidava a que fossem feitas adaptações das suas Canções Heroicas para serem cantadas a solo ou tocadas por qualquer conjunto instrumental. O intuito era fazê-las chegar junto de «toda a gente». Mais recentemente, o maestro Luís Cardoso aceitou o desafio e adaptou algumas dessas canções para orquestra.
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Em setembro de 1945, Fernando Lopes Graça juntou-se aos poetas João José Cochofel – na casa de férias deste, perto de Coimbra –, Carlos de Oliveira e José Gomes Ferreira para darem início a um projeto a que chamaram Marchas, Danças e Canções. Tratava-se de um cancioneiro político composto por curtas peças escritas para voz e piano com mensagens explícitas de repúdio pelo regime fascista. Ao longo da vida, o compositor viria a publicar, em edição própria, oito cadernos com canções semelhantes, as quais intitulou «Canções Heroicas, Dramáticas, Bucólicas e Outras»; seis deles ainda antes do 25 de Abril.
Desde início, as versões para vozes a capella foram intituladas Canções Heroicas e interpretadas por um coro amador formado no seio do Movimento de Unidade Democrática (MUD); seria o Coro do Grupo Dramático Lisbonense. Em meados de 1946, após uma apresentação pública na Biblioteca da Incrível Almadense, a censura interveio e proibiu as canções. Porém, a inspiração subversiva garantiu-lhes continuidade. O projeto prosseguiu na Academia de Amadores de Música, onde Fernando Lopes Graça foi professor durante muitos anos – com um interregno também forçado por razões políticas. Em 1952 aquele coro passou a denominar-se oficialmente como Coro da Academia de Amadores de Música. Apresentava-se por todo o país levando consigo as Canções Regionais Portugueses (o «Lado B» das Canções Heroicas), nas quais a motivação ideológica era dissimulada, mas que também se alimentavam de um genuíno interesse pela música tradicional portuguesa. Extraprograma, o coro cantava as Heroicas em convívios mais informais e reservados. Deste modo, as Heroicas foram arma de luta no combate à ditadura fascista por todo o país, inclusive nas prisões. Não surpreende que se tenham tornado as composições do músico tomarense mais conhecidas do grande público.
Rui Campos Leitão