Descendente de imigrantes italianos, Astor Piazzolla morreu em 1992 com 71 anos de idade. A sua música transporta-nos para o hemisfério sul, mais especificamente para o bairro pobre do porto de Buenos Aires. Foi aí que nasceu o Tango, género que reinventou com recurso a técnicas jazzísticas e influências da música clássica. Nesse sentido, na década de 1960 entrou em diálogo com Antonio Vivaldi e compôs Quatro Estações Portenhas, onde a natureza se transfigura em paisagens «portenhas» e no bulício da cidade. Sucedem-se o verão, o outono, o inverno e a primavera num entrelaçado de citações que mistura melodias de Vivaldi, imitações dos sons das cigarras e o cânone distante de Pachelbel. Livremente inspiradas em arquétipos da música barroca, percorrem registos expressivos que se correspondem com os «humores» das diferentes estações. Mas o exemplo mais evidente da reinvenção do Tango é Adiós Nonino, tema célebre composto em 1959, na sequência da notícia da morte do pai do músico. 20 anos mais tarde, Piazzolla disse que nesse dia «Talvez estivesse rodeado por anjos. Fui capaz de escrever a melhor melodia que já escrevi. Não sei se alguma vez farei melhor. Duvido.»
Rui Campos Leitão
Imagem: Astor Piazzolla em 1971 | Fonte – Wikimedia Commons