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As Imagens Húngaras de Bartók

Béla Bartók passou o verão de 1931 numa localidade austríaca próximo do lago Mondsee, onde foi convidado para ensinar num curso de verão frequentado por jovens músicos austríacos e norte-americanos. Imerso na tranquilidade daquelas paisagens, dedicou as horas vagas à orquestração de várias peças suas para piano que coincidiam na apropriação de ritmos e melodias da música tradicional do seu país. As Imagens Húngaras convidam-nos, deste modo, a fazer uma curta viagem por terras magiares.

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As fronteiras geográficas de hoje são bem diferentes daquelas de há cem anos atrás. O Império Austro-Húngaro reunia vários reinos no seio da mesma soberania política. Depois da Primeira Grande Guerra Mundial tudo se redesenhou. Assim, atribuímos a nacionalidade húngara a Béla Bartók, muito embora a cidade onde nasceu, Nagyszentmiklós, a qual integrava o Reino da Hungria, tenha hoje o nome de Sânnicolau Mare e se situe no território da Roménia. Não espanta, portanto, que o seu interesse pelas tradições musicais populares tenha resultado em obras orquestrais como as Danças Populares Romenas, em 1917, ou as Imagens Húngaras, em 1931.

Neste último caso, trata-se da orquestração de cinco peças que o próprio havia composto para piano anteriormente, todas elas baseadas em melodias tradicionais daquela região. Começa com «Uma noite na aldeia», sobre uma melodia de caráter nostálgico protagonizada pelo clarinete, e que deriva das Dez Peças Fáceis para Piano datadas de 1908. A «Dança do urso» tem a mesma origem e distingue-se por uma energia que resulta da imprevisibilidade rítmica e da substância modal características do folclore local. Já «Melodia» é emprestada dos Quatro Hinos Fúnebres, datados de 1909. É uma melodia sentida, na qual as cordas e as madeiras assumem um protagonismo pontuado pelo som etéreo da harpa. Segue-se «Ligeiramente embriagado», um retrato quase cinematográfico do passeio ébrio recuperado das Três Burlescas, de 1911. A terminar ouve-se a «Dança do guardador de porcos», os ritmos de dança rápidos e festivos que se acham na série de peças para piano para crianças datadas de 1908-1909. No conjunto, são cinco retratos musicais que colocam à prova a versatilidade expressiva de qualquer orquestra.

 

Rui Campos Leitão