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As Hébridas

 

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Chama-se Abertura, mas não precede uma Ópera. Tem um título teatral, mas não reporta a uma narrativa. Afinal, trata-se de uma obra orquestral autónoma que se impõe hoje no repertório de qualquer orquestra. Em 1830, resultava da inspiração de Mendelssohn diante de uma gruta situada na reserva natural marítima do Arquipélago das Hébridas Interiores, ao largo da costa escocesa. Num só fôlego, é um curto poema sinfónico que evoca o som e a paisagem de um lugar impressionante.

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A composição d’As Hébridas resultou de uma viagem feita por Mendelssohn a Inglaterra e à Escócia. Daí viria a resultar a 3.ª Sinfonia (Escocesa) e – precisamente – esta abertura orquestral Op. 26. O compositor sentiu-se sugestionado pela imponência da Gruta de Fingal, situada na ilha de Staffa das Hébridas Interiores. Deixou-se deslumbrar pela dimensão grandiosa, pela peculiar configuração e pela ressonância dos golpes das ondas do mar. Fez então deambular a orquestra por vagas sonoras que remetem para um universo impressionista, bem demonstrativo do lugar de honra que lhe pertence na vanguarda estilística da música do século XIX. Numa peça musical que se pode descrever como «verdadeiramente inspirada», sem o risco de incorrer em lugares comuns, somos convidados a balançar entre um imaginário melancólico evocativo da singular beleza da gruta e uma disposição tempestuosa, conforme à imensidão e à força do oceano. Esta dualidade distingue-se com particular facilidade, por um lado com um tema melódico nas cordas da orquestra, calmo e lírico, por outro com passagens agitadas em que os metais e as percussões assumem particular relevo.

 

Rui Campos Leitão

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