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A Walk to Beethoven

Em 2019, a compositora sueca Britta Byström deu continuidade a uma série de criações destinada a cumprir propósitos de programação muito específicos. Numa era em que as programações das salas e respetivos públicos valorizam tanto as obras artísticas canónicas, em parte devedoras das conotações históricas e das afinidades culturais que projetam, coloca-se frequentemente a dificuldade de lhes achar companhia. Como exemplo: o que apresentar lado a lado com a emblemática Sinfonia N.º 7 de Beethoven? A resposta pode agora ser «A Walk to Beethoven».

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A fim de assinalar a efeméride dos 250.º aniversário do nascimento de Ludwig van Beethoven, a Orquestra Filarmónica do Ártico, sediada no norte da Noruega, programou a Sinfonia N.º 7 de Beethoven. Para completar o programa, o maestro Christian Kluxen encomendou a Britta Byström uma composição orquestral que de algum modo estabelecesse relações com essa obra. O desafio é curioso, pois convida-nos a fundear âncora num passado distante para fazer uma reflexão presente. É como se a contemporaneidade fosse interpelada por um monumento centenário da cultura ocidental.

Em jeito de prelúdio, Byström optou por uma caminhada cuja cadência rítmica nos conduz – passo a passo – até ao privilegiado momento de ouvirmos com disposição renovada os primeiros acordes dessa mesma sinfonia à qual Richard Wagner chamou «Apoteose da Dança». Como em todas as anteriores ocasiões que resultaram em «A Walk to…», também neste caso não lhe era oferecida a oportunidade de escolher a obra à qual se dirigia. Logo admitiu, porém, que lhe calhara um brinde, por se tratar de uma sinfonia que lhe incendiava a imaginação, muito particularmente o tema melódico do segundo andamento. Precisamente, esta melodia é uma das alusões que mais nitidamente se vislumbram nas sonoridades reminiscentes de A Walk to Beethoven, uma partitura que se estrutura em 14 pequenas secções encadeadas, sem interrupções. Não se espere, ainda assim, a tradicional sequência de variações sobre um tema. A compositora prefere chamar-lhes «14 flores que brotam da mesma semente», «14 caminhos que nos levam até Beethoven».

 

Rui Campos Leitão

 

Imagem: Britta Byström em 2014. Foto de Arne Hyckenberg