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A «Primeira Sinfonia» de Mendelssohn

 

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Anteriormente, Felix Mendelssohn já havia escrito doze pequenas sinfonias para orquestra de cordas. Excluiu-as, no entanto, do seu catálogo. Consideraria tratar-se de meros exercícios de composição realizados sob orientação do seu professor Carl Friedrich Zelter. Por este motivo, a Sinfonia Op. 11, estreada em 1827 em Leipzig, é a sua «verdadeira» Primeira Sinfonia.

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Quando Mendelssohn nasceu, em 1809, Beethoven já contava trinta e nove anos de idade e era um dos compositores mais respeitados em toda a Europa. A sua reputação não era, todavia, bem considerada entre os mais conservadores e muitos músicos executantes. O jovem compositor não escondia o entusiasmo pela sua música, muito embora não fosse dado às mesmas ousadias. Preferia o equilíbrio entre a vanguarda e a tradição. Buscava harmonizar a reverência do passado com a projeção do futuro. Ainda assim, era o ano de 1824, o mesmo em que foi estreada a célebre Nona Sinfonia. O arrebatamento sinfónico do velho mestre terá sido motivação suficiente para se aventurar na composição da sua primeira grande sinfonia. Como em tantas outras criadas ao longo de todo o século XIX, também esta não esconde aquela influência. O plano estrutural prossegue o modelo clássico de Mozart, mas a intensidade dramática é beethoveniana. O primeiro e último andamentos são enérgicos, de expressão intensa. Os andamentos centrais contrastam bastante. Destaca-se o terceiro, pela afinidade manifesta com a «excentricidade» dos minuetos sinfónicos de Beethoven.

No todo, é música que irradia o entusiasmo da juventude. No primeiro andamento irrompem ritmos vibrantes num percurso construído sobre a Forma Sonata e uma orquestração imaginativa que explora exemplarmente os diálogos entre os sopros e as cordas. No segundo, mantendo a métrica ternária, explanam-se melodias cuja beleza se deve em grande medida à simplicidade com que se desenrolam. Já no Minueto, reconhece-se bem a ênfase expressiva da estética romântica vincada na música daquela época. Pelo meio, sobressai uma secção mais tranquila, a característica parte lenta que integra algumas peças dançantes e à qual chamamos Trio. Por fim, um último andamento em que transições harmónicas e dinâmicas bruscas convidam a reconhecer as proposições estéticas do movimento Sturm und Drang, a «Tempestade e Ímpeto» que então inspirava a atividade artística alemã.

Rui Campos Leitão