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A Música Minimal no Cinema

A minimalismo musical e o cinema mantêm desde há muito uma relação de parceria com provas dadas. Entre os filmes mais conhecidos contam-se «Os Livros de Próspero» de Peter Greenaway (1991) e «O Piano» de Jane Campion (1993), com música de Michael Nyman, ou «As Horas» de Stephen Daldry (2002) e Mishima: A Life in Four Chapters de Paul Schrader (1985), ambos com música de Philip Glass. A banda sonora deste último mistura peças orquestrais com outras que se limitam ao quarteto de codas. Algumas delas vieram a destacar-se por si mesmas nas salas de concerto, como uma verdadeira suíte cinematográfica.

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O alcance das criações de Philip Glass estendem-se muito para lá da dimensão musical. É uma personalidade atenta ao mundo que o rodeia, genuinamente interessada em todas a formas de Conhecimento e na riqueza das diferentes culturas. A sua música proporciona um estado reflexivo, mas também um disposição física que, frequentemente, conduz a um efeito hipnótico que se aproxima do transe, tal como reconhecemos nalgumas tradições musicais ancestrais. Assemelha-se, de certo modo, a um organismo vivo que se transforma ao longo do tempo, a maior parte das vezes com o sentimento positivo de quem assiste ao florescimento de uma nova realidade. Tem uma plasticidade e um potencial dramático que convive na perfeição com a sétima arte, como bem o demonstra o filme Mishima: A Life in Four Chapters.

Na realidade, trata-se de três filmes que se juntam num só. O primeiro é um documentário a cores que faz alusão ao final da vida do escritor. O segundo, a preto e branco, também tem um carácter biográfico, mas foca-se na memória de episódios precedentes. O projeto conclui com um filme em que se sobrepõem excertos retirados de três contos do escritor, entre os quais Runaway Horses (Cavalos em fuga), publicado em 1969. A música do filme reforça a diferença entre essas três dimensões cinematográficas. Divide-se entre partes orquestrais, outras para quarteto de corda e outras, ainda, que remetem para arquétipos das bandas militares, com o recurso das percussões. Não se tratando de uma grande produção dos estúdios de Hollywood (produção de Francis Ford Coppola e George Lucas), não recorre aos estereótipos mais correntes da música para cinema. Seria expectável a alusão a sonoridades que remetessem para o oriente, de maneira a contextualizar o enredo. Mas tal não se verifica. Em vez disso, assistimos às estruturas repetitivas e aos ritmos cumulativos característicos da música minimalista.