A música e a ciência partilham entre si o mistério do conhecimento. Houve tempos em que mantinham uma relação tão estreita que não se distinguiam. Depois, a orientação estética da obra artística conduziu a um afastamento. Mas a relação permanece. Philip Glass tem cruzado os dois universos em diversas ocasiões ao longo da carreira. As mais conhecidas resultaram nas óperas Einstein on the Beach (1975) e Galileo Galilei (2001), e também na obra orquestral A Luz.
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A lado de nomes como Steve Reich e Michael Nyman, Philip Glass é uma das figuras que mais contribuiu para a afirmação da estética minimalista no domínio da música. Tornou-se conhecido do grande público através do cinema, em filmes como As Horas ou O Ilusionista. Mas o seu catálogo estende-se à ópera, à música de câmara, à escrita sinfónica orquestral e até mesmo à publicidade. Iniciou a sua formação musical em Nova Iorque, mas em 1960, com 23 anos de idade, viajou para a Europa onde se deixou influenciar por músicos tão díspares como Brian Eno e Nadia Boulanger, David Bowie e Arvo Pärt. Houve, todavia, uma influência que se revelou particularmente importante, a de Ravi Shankar, que lhe despertou o fascínio pela perceção de tempo característica na música indiana.
O Minimalismo Musical, enquanto técnica de composição e estilo de música, surgiu nos E.U.A. nos anos 1960 a partir de um conjunto de influências dispersas; desde a música setecentista, passando pelo jazz e pelas artes performativas, até às tendências mais experimentalistas da primeira metade do século XX. Tem a curiosidade de ser uma música rendilhada e contrapontística, mas com um roupagem inequivocamente moderna. Reflete, assim, a recuperação de ideias de um passado que remonta ao período barroco, mas com uma aparente simplicidade que evoluiu em texturas relativamente estáticas e que se estendem ao longo do tempo. São blocos sonoros constituídos por pequenas células que se acumulam em manchas sonoras e ambientes que evoluem gradualmente sobre mudanças profundas, de modo praticamente imperceptível. A obstinação rítmica, vincada pelo efeito da repetição, é umas das suas características mais evidentes.