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A Escola de Berlim

O envolvimento direto de Frederico O Grande na vida musical da sua corte conferiu a esta uma consistência técnica e estilística que se sobrepôs à individualidade dos músicos que ali trabalharam. Por isso, e independentemente da singularidade que se reconhece em figuras como Johann Gottlieb Graun, Franz Benda e Carl Philipp Emanuel Bach, podemos hoje distinguir uma «Escola de Berlim» quando lembramos a importância que esta teve na transição entre os estilos musicais barroco e clássico… com um «estilo sentimental».

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O panorama musical berlinense do século XVIII tem sido relativamente negligenciado pelos historiadores, comparativamente com aqueles de Viena e Mannheim, na mesma época. A respeito destas últimas cidades, há já muito tempo que nos livros de História lhes está associada a designação de «Escolas», entendidas estas como movimentos artísticos distintos que se formam em determinados círculos temporais e geográficos. Mais recentemente, este foco vem sendo corrigido. Fala-se agora de uma «Escola de Berlim». Mas o que é que a distingue, afinal?

O paradigma cultural que vingava na corte de Frederico O Grande chegava, sobretudo, de França, em particular no que respeita à literatura e aos costumes. Já no que se refere à música, a influência era tendencialmente italiana. A razão de ser desta disparidade, deveu-se não somente ao gosto pessoal do monarca, que apreciava incondicionalmente a ópera italiana, mas também à circunstância de uma significativa parte dos músicos da sua orquestra provirem de Dresden, numa altura em que a Orquestra da Capela da Corte desta cidade era liderada pelo italiano Johann Georg Pisendel. A música que se fazia em Potsdam não procurava impressionar pelo virtuosismo, mas sim pela comoção sentimental, o que aqui contraria a ideia austera e conservadora que costuma estar associada àquele ambiente. Ser moderno implicava ser simultaneamente sóbrio e comovente. A competência e o bom gosto, eram os critérios que determinavam o juízo estético.

Com este sentido, os compositores – que também eram intérpretes – investiam grande cuidado nos andamentos lentos, pois eram as partes mais apreciadas pelo público a que se dirigiam. Procuravam uma afetação das emoções sem sacrifício do charme e da nobreza. Por seu turno, nos andamentos rápidos, muito embora houvesse frequentemente variações dinâmicas bruscas e alguma impetuosidade rítmica, a qualidade do fraseio sobrepunha-se aos caprichos da retórica, buscando sempre o essencial. Evitavam-se ornamentações supérfluas, maneirismos e aparato virtuosístico. Estas eram algumas das principais características do Empfindsamkeit, o Estilo sentimental que ali fazia moda.