Em outubro de 1923 estreou no Théâtre des Champs-Elysées La Création du Monde, um espetáculo da companhia de bailado Ballets Suecos com coreografia de Jean Börlin. O libreto, inspirado em lendas da mitologia africana, deu azo aos figurinos e cenários primitivistas de Fernand Léger e às sonoridades jazzísticas de Darius Milhaud.
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O libreto de La Création du Monde baseava-se no livro «Anthologie nègre» de Blaise Cendrar, o qual reflete o fascínio pela arte e cultura africanas que havia naquela época em Paris – sobretudo as artes plásticas, mas também as tradições orais. Reúnem-se aí narrativas oriundas de impérios e tribos ancestrais, lendas e fábulas com alusões à origem do nosso planeta, dos animais e do Homem. Foi ensejo para Darius Milhaud fazer ecoar as sonoridades jazzísticas que havia escutado ao vivo no ano anterior no bairro de Harlem, em Manhattan, mas que também eram moda nos «loucos anos 20» parisienses.
Na suíte orquestral extraída do bailado é possível reconhecer uma Abertura em que sobressai o saxofone e cinco cenas do bailado: «O Caos antes da Criação», «O Nascimento das Plantas e dos Animais», «O Nascimento do Homem e da Mulher», «O Desejo» e a «Primavera». Apesar das alusões explícitas, é sobretudo uma recriação sinfónica de elementos musicais característicos do jazz, tais como o blues, o cakewalk e as pulsações sincopadas.
Rui Campos Leitão
Imagem: «La Création du monde»; Coreografia de Jean Börlin; figurinos e cenários de Fernand Léger. Fotografia de James Abbe, 1923. Fonte: BnF-BmO