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A Abertura d’«A Hospedaria Portuguesa»

Em julho 1798, em pleno rescaldo da Revolução Francesa, estreava no Théâtre Feydeau de Paris a primeira ópera cómica de Luigi Cherubini, L’hôtellerie portugaise. Curiosamente, o cenário do enredo decorre numa hospedaria situada na fronteira entre Portugal e Espanha em meados do século XVII. A produção foi um fracasso. Ainda assim, incluía algumas passagens que agradaram imediatamente o público. É o caso da abertura orquestral que lhe dá início, a mesma que ainda hoje temos o prazer de revisitar.

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Luigi Cherubini nasceu em Florença em 1760, tendo também estudado nas cidades de Bolonha e Milão. No princípio da carreira compôs fundamentalmente música sacra. Só quando Napoleão Bonaparte assistiu em Viena a uma ópera da sua autoria, já em 1805, é que passou a ter maior visibilidade internacional. Teve, no entanto, de esperar até à abdicação do imperador para desenvolver uma carreira de sucesso em Paris, designadamente à frente do conservatório daquela cidade. Apesar de se ter tornado num compositor muito respeitado na época – por figuras como Beethoven, por exemplo –, são as aberturas das suas óperas que são mais frequentemente tocadas nas salas de concerto dos nossos dias.

A ópera em um ato L’hôtellerie portugaise tinha sido estreada antes disso, poucos anos depois da Revolução Francesa e numa altura em que a convivência pacífica e a diversão mundana voltavam com normalidade à cidade de Paris. Foi, por isso, a primeira vez que Cherubini assinou uma ópera cómica. O libreto não trazia grandes surpresas. Um velho (Don Roselbo) está enamorado de uma donzela (Gabriella), mas termina enganado pela astúcia da jovem e do seu prometido (D. Carlos). Desperta-nos a curiosidade a circunstância de a ação do libreto se passar em Portugal, aonde Gabriella veio ao encontro de D. Carlos. Mais curioso, ainda, é o tema melódico de cariz popular que é tocado pesarosamente no início desta abertura orquestral, logo seguido de uma secção mais enérgica com sucessivos contrastes expressivos, como que anunciando as inúmeras peripécias dramáticas que subiriam depois à cena.

 

Rui Campos Leitão